24/03/2022

O BRASÃO DA CASA DA QUINTÃ DA LUZ


O Brasão

O brasão de armas da Casa da Quintã da Luz localiza-se sobre a entrada principal da fachada do imóvel. Foi esculpido em granito no século XIX e, segundo os especialistas, pela sua exuberância e riqueza de elementos, é um “excelente exemplo das imensas potencialidades da Arte Heráldica”. (1)

 

 

Lição heráldica

Classificação: Heráldica de família

Conjunto: Escudo ovalado assente em cartela decorativa com troféus sotopostos (estandartes, peças de artilharia, tambor... Elmo de grades)

Composição: Esquartelado.

Leitura: I e IV – Peixoto

                  II – Leite

                 III – Teles

Timbre de Peixoto: Um pelicano (No timbre deveria figurar um corvo marinho com um peixe no bico e nunca um pelicano).

I e IV – Xadrezado de 5 peças em faixa e 6 em pala.

II – Esquartelado: o 1º e 4º com três flores de lis, postas 2 e 1, o 2º e 3º com uma cruz florenciada e vazia.

III – Esquartelado: o 1º e 4º de ouro pleno (Meneses), o 2º e o 3º com leão (Silva).

 

 

(1) Este e outros brasões do concelho foram estudados pelo especialista da “ASPA”, Armando Malheiro da Silva e foram, primeiramente publicados no jornal “Diário do Minho” entre 1985 e 1990. Em 1986 a Câmara Municipal de Fafe reuniu as fichas dos 12 primeiros brasões estudados e publicou-os no 1º e único número dos “Cadernos Culturais”.

 

CARTA DE BRASÃO DE ARMAS PASSADA POR D. JOÃO V A ANTÓNIO PEIXOTO TELLES DE MENESES LEITE, MORADOR NA SUA QUINTA DA QUINTÃ, FREGUESIA DE SANTA COMBA DE FORNELOS

 

«D. João, por graça de Deus, Rei de Portugal e dos Algarves d’aquém e d’além mar e África, senhor da Guiné, e da Conquista, navegação do Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e da Índia, faço saber aos que esta minha carta virem, que António Peixoto Telles de Menezes Leite, morador na quinta da quinta, freguesia de Santa Comba de Fornelos, Concelho de Montelongo, me fez petição dizendo-me que ele vinha, por legítima descendência da nobre geração e linhagem dos Peixotos Leites Telles e Menezes, e que as suas armas lhe pertenciam de direito, e me pedia por mercê, que para memórias dos seus antecessores se não perder, e ele usar da honra das armas que pelos merecimentos de seus serviços ganharam, e lhe foram dadas a fim dos privilégios, honras, graças e merçês que, por direito, e por delas lhe pertencem lhe mandasse por dar minha carta das ditas Armas que estavam registadas nos livros dos Registos das Armas dos Nobres e Fidalgos de meus Reinos que tem “Portugal” seu principal Rei de Armas. Para o que me apresentou uma sentena de justificação de sua ascendência e nobreza, proferida pelo doutor Gonçalo José da Silveira Preto, meu Desembargador e Corregedor do Cível, nesta minha Corte e Casa da Suplicação, e feita por Tomás de Gouveia Barbuda, escrivão do dito juízo, na qual depois dele tirar inquirição de testemunhas, julgou o dito meu Corregedor ser o suplicante, de antiga nobreza, sangue limpo e legítimo, descendente das ditas famílias dos Peixotos, Leites, Telles e Meneses, por provar ser filho legítimo de Afonso Torrado Leite da Costa e de D. Francisca Telles de Meneses, moradores na sua quinta da quinta, freguesia de Santa Comba de Fornelos, do Concelho de Montelongo. Neto, pela parte paterna, de Bento da Costa e de sua mulher Mariana Ribeiro, moradores que foram na dita quinta, freguesia e Concelho, e pela materna ser neto de Manuel Telles de Meneses e de sua mulher, D. Isabel Teresa, e que o suplicante e seus antecedentes foram sempre tidos por pessoas de conhecida nobreza e como tais se tratam com cavalos, armas e criados e escravos, o qual tratamento conserva o suplicante por ser senhor de muitos bens, e vínculo de morgado, e também senhor da apresentação com seu voto da abadia da igreja da dita freguesia como o tiveram o0s ditos seus pais, sendo todos descendentes das famílias de seus apelidos sem neste haver raça de infecta nascença, e assim o suplicante como legítimo descendente das famílias de seus apelidos lhe pertencem as suas armas, as quais lhe mando dar nesta minha carta com seu Brasão, Elmo e Timbre como aqui são divisadas, e assim como fiel e verdadeiramente se acharão iluminadas e registadas nos Livros do dito “Portugal” meu rei de armas.

A saber um escudo esquartelado, no primeiro quartel, as Armas dos Peixotos, que são escudo enxadrezado de azul, e ouro de cinco peças em sacha, e seis em pala. No segundo quartel, as Armas dos Leites, que são esquarteladas, no primeiro, em campo verde, três flores de lis de ouro em roquete e, no segundo, em campo vermelho, uma cruz de prata pulmela e vazia de campo e, assim, os contrários. No terceiro quartel, as Armas dos Telles e Menezes, que são escudo esquartelado, no primeiro quartel, o campo de ouro, no segundo, em campo de prata, um leão de púrpura rompante e, assim, os contrários. No quarto quartel, outra vez a dos Peixotos. Elmo de prata, aberto guarnecido de ouro. Paquife dos metais e cores das Armas. Timbre, o dos Peixotos, que é um corvo marinho de sua cor, com um peixe de prata no bico e, por diferença, uma brica vermelha com um farpão de prata. O qual escudo e armas poderá trazer e traga o dito António Peixoto Telles de Menezes Leite, assim como as trouxeram e delas usaram os ditos nobres e antigos fidalgos seus antepassados em tempo de mui esclarecidos reis, meus antecessores e, com elas, possam entrar em batalhas, campos, peitos(?), escaramuças, e exercer com elas todos os outros actos lícitos da guerra e da paz, e assim as poderão trazer em seus firmais, anéis, sinetes e divisas, pô-las em suas casas e edifícios e deixa-las sobre sua própria sepultura e, finalmente, se poderá servir, honrar gozar e aproveitar delas em tudo e por tudo como  a sua nobreza convém.

Com o que quero e me praz que haja ele todas as honras, privilégios, liberdades, graças, mercês, isenções e franquezas que não e devem haver os fidalgos nobres e de antiga linhagem como sempre de todo usarão e gozam os ditos seus antepassados, pelo que mando a todos os meus desembargadores, Corregedores, juízes, Justiças, Alcaides e, em especial, aos meus reias de armas, arautos e passavantes e a quaisquer outros oficiais e pessoas, a quem esta minha carta for mostrada a ao conhecimento dela pertencer quem em tudo lho cumpram e guardem como nela é contido sem dúvida nem embargo algum que nela lhe seja posto, porque assim é minha mercê.

El Rei Nosso Senhor o mandou por Manuel Pereira da Silva, seu rei de armas. Frei Manuel de Santo António, da ordem de S. Paulo e reformador do cartório da Nobreza, a fez em Lisboa aos vinte e sete dias do mês de Janeiro do ano de mil setecentos e quarenta e nove.»

Seguem-se as assinaturas.

 

Esta Carta de Brasão, concedida por D. João V a António Peixoto Telles de Menezes Leite, segundo morgado da Casa da Quintã da Luz, que nunca chegou a casar, chegou até nós em cópia de projecto. A carta original, supostamente, perdeu-se aquando do incêndio do Cartório da Nobreza no terramoto de 1755. Um dos originais esteve guardado no Solar da Luz e, alegadamente, na posse da família descendente, Magalhães e Menezes.

«Na casa conservam-se ainda inúmeros documentos de interesse para a história da família, alguns pergaminhos, árvores genealógicas e uma carta de brasão de armas».

 

In Cadernos Culturais, nº1, Brasões do Concelho de Fafe, primeira parte, Câmara Municipal de Fafe, 1986, p. 33.

 

 

 

 


 

22/03/2022

Companhia de Fiação e Tecidos de Fafe (Fábrica do Ferro) Breve historial

Panorâmica da Fábrica do Ferro
Reprodução de postal ilustrado


«A Companhia Industrial de Fafe, empresa moageira que, possuindo uma queda de água na margem do rio Ferro, se propunha com ela explorar também o ramo de fiação e tecidos, não pode levar a bom termo esse projecto, pois, entrando subitamente em crise, careceu de capital não só para enfrentar as dificuldades surgidas como para prosseguir na obra planeada.

Em tão difícil e delicada emergência um grupo de sócios, orientado pelo experimentado e sabedor capitalista portuense Sr. José Ribeiro Vieira de Castro, sugeriu, em assembleia-geral de 15 de Dezembro de 1886, que se procedesse à remodelação dos objectivos industriais da Companhia, circunscrevendo a sua actividade apenas ao ramo têxtil e aumentando-lhe o capital de modo a satisfazer os encargos resultantes.

Aceite o criterioso alvitre, logo se passou à sua execução prática e, assim, já a 17 de Janeiro de 1887 eram aprovados os estatutos da Companhia de Fiação e Tecidos de Fafe», com o capital de duzentos contos e sede no Porto.

Para conduzir os destinos da nova sociedade anónima foi eleita uma Direcção de três membros, que ficou constituída pelos Srs. António Joaquim de Morais, José Ribeiro Vieira de Castro e João Evangelista da Silva Matos.

Em 1890 este último afastou-se do cargo, do que resultou a Direcção ser ulteriormente apenas exercida pelos dois restantes administradores, norma que se manteve durante longos anos.

Por impedimento do Sr. António Joaquim de Morais, substituiu-o nas funções em 1897 o Sr. Manuel de Lemos, que concedeu ao Sr. Vieira de Castro uma colaboração valiosa, possibilitando que ambos realizassem em prol da empresa uma obra apreciável, pois, a partir de 1900, a fábrica começou a tomar incremento, ampliando as instalações e reapetrechando as oficinas.

O Sr. José Ribeiro Vieira de Castro faleceu em 1905, sucedendo-lhe na gerência o Sr. Manuel Cardoso Martins, dedicado funcionário da sociedade, onde desde 1897 ocupava o lugar de guarda-livros. Em 1916, e por morte do Sr. Manuel de Lemos, entrou para a Direcção o Sr. Albano

 

Vieira de Castro, sobrinho do fundador, e que também desempenhara cargos de responsabilidade como empregado da firma. Unidos por elevado espírito de mútua compreensão, e conhecendo ambos todos os problemas profissionais que poderiam interessar ao progresso da empresa, os Srs. Manuel Cardoso Martins e Albano Vieira de Castro, seguindo o exemplo dos seus antecessores, imprimiram à fábrica várias remodelações sucessivas, algumas delas ainda em curso, e conseguiram não só dar maior extensão às oficinas como também construir novos corpos edificados para a instalação de aperfeiçoadas secções de branqueação, tinturaria e acabamentos. O concurso técnico do Sr. Engenheiro João Mendes Ribeiro Guimarães, em 1946 eleito Director, veio-lhes facilitar essa exaustiva tarefa a partir de 1933, data em que o mesmo começou a prestar serviços da sua especialidade na Companhia.

Graças ao aperfeiçoamento dos artigos produzidos, à sua larga difusão comercial nos mercados consumidores da Metrópole e do Ultramar e em virtude ainda da lúcida administração interna, esta empresa conhece hoje um nível industrial deveras importante, que se traduz pela sólida cotação das suas acções na bolsa nacional.

Equipada com dezoito mil fusos e setecentos e oitenta e três teares mecânicos, a «Companhia de Fiação e Tecidos de Fafe» ocupa nas suas vastas oficinas aproximadamente mil e trezentos operários, aos quais, desde há muito tempo, presta uma assistência social relevante e que pode ser considerada com justiça um dos principais motivos de orgulho da actuação directiva, pois constitui obra de modelar exemplo.

Muito antes de outras organizações estabelecerem benefícios aos seus empregados no sentido de lhes assegurar a tranquilidade futura, instituiu a «Companhia de Fafe» subsídios de reforma aos operários atingi dos por doença, invalidez ou velhice, encargo que, fielmente cumprido e executado, representa hoje, para o seu cofre, a despesa anual de cerca de trezentos mil escudos.

Durante a guerra de 1914-1918, a fim de obstar à especulação que absorvia totalmente os salários dia a dia mais elevados, a gerência montou também uma grande cantina destinada a abastecer o pessoal com os géneros de primeira necessidade, vendidos a preços mínimos e forneci dos a crédito ou em pagamentos suaves. O lucro dessa cantina, que funcionou e funciona vantajosamente para os interessados, reverte a favor dos consumidores.

Tendo depois fundado uma creche e lactário com duzentos leitos, a Direcção, em 1926, abriu uma escola infantil anexa que, de seguida, completou com escolas primárias, onde o ensino è presentemente minis trado por seis professores contratados e pagos pela Companhia. Quatrocentas crianças são assim carinhosamente amparadas e educadas, sem que os pais tenham de fazer qualquer sacrifício ou prejudicar o seu trabalho. Para eles também existe uma cozinha económica, dotada de amplos e confortáveis refeitórios, onde lhes são servidas, a preços extraordinariamente ínfimos, abundantes e variadas refeições.

Assistência médica permanente, exercida por clínicos privativos da fábrica, vela pela sua saúde. Este serviço é autónomo e nada tem com aquele que se refere a acidentes de trabalho. Finda a tarefa diária, os operários podem utilizar nas suas abluções balneários modernos e higiénicos.

Coroando tão bela obra humanitária, cujo valor e significado mereceram das entidades superiores expressivas provas de incentivante louvor, a «Companhia de Fiação e Tecidos de Fafe» erigiu excelentes bairros e moradias para habitação de grande parte dos seus assalariados, que, a troco de insignificantíssimas rendas, passaram a dispor de casas construídas segundo as exigências da mais perfeita profilaxia, cada qual possuindo quarto de banho particular e saneamento conveniente.

Independentemente das actuais disposições da lei, que cumpre com o máximo rigor, a empresa realiza, portanto, uma protecção social espontânea e benemerente, que, exigindo-lhe o sacrifício de avultadas somas, traduz com inusitado brilho o espírito compreensivo da Direcção perante as necessidades de todos os seus colaboradores, mesmo os mais humildes, cujo bem-estar colectivo ela sempre sobrepôs ao interesse mercantil que representa.»


In Bastos, Carlos, "O Algodão no Comércio e na Indústria Portuguesa", Porto, 1947.


 

16/03/2022

MONUMENTO DA JUSTIÇA DE FAFE 1981

 



«PERFIL

Este Monumento foi inaugurado pelas 11 horas do dia 22 de Agosto de 1981, cerimónia integrada na Festa dedicada aos Emigrantes e a que estiveram presentes o Governador Civil do Distrito, Dr. Fernando Alberto R. Silva, o Presidente da Câmara Municipal de Fafe, Dr. Parcídio Summavielle, alguns vereadores e elementos das Juntas de Freguesias, bastantes Emigrantes e público, assim como a Fanfarra dos Bombeiros Voluntários de Fafe.

- As figuras que o compõem são fundidas em bronze e medem 2,20 m. cada uma, pesando, em conjunto, cerca de 2000 quilos.

A sua escultura é obra do Professor de Belas Artes, Escultor Eduardo Tavares, residente na cidade do Porto, tendo sido fundidas na firma Fundição de Bronzes de Arte, de Fernando Silva Lage, de Oliveira do Douro, Vila Nova de Gaia.

- O plinto (base) em que está assente é de granito da região e tem 2,73 m. de comprimento; por 1,16 m. de altura.

- Erigir esta estátua era ideia antiga no sentido de mostrar a quem nos visita, o símbolo da nossa terra tantas vezes utilizado em cartazes e na mais diversa publicidade comercial.

- Está implantada na Rua dos Combatentes, precisamente na parte traseira do Palácio da Justiça e, a escolha desse local mostrou-se contraditória em alguns sectores da opinião pública mas, ele obedeceu, - segundo a Comissão – ao propósito de se enquadrar, digamos, a «justiça do cacete» evitável; com a «justiça do homem» inevitável e necessária.

- Esta obra custou cerca de 800 contos, sendo que os principais custos foram os de 250 c. para o escultor; 350 c. para a fundição; 60 c. para o plinto e o restante em diversas despesas efectuadas com Festas ao Emigrante, etc. montante esse que foi conseguido pela comissão junto da Câmara, Governo Civil, Comércio e Industria locais, Emigrantes de França, e do público em geral, assim como através de um sorteio que foi um êxito se considerar que, felizmente, só muito poucos, nem devolveram os bilhetes, nem mandaram o dinheiro…

 

Porém, as contas estão totalmente pagas e a verba sobrante, bem como algumas plaquetas e cinzeiros, vão agora ser distribuídos pelos Bombeiros, Lar da Terceira Idade, A.D. Fafe.

Entretanto, e voltando ao nosso «perfilado» será de sugerir à nossa edilidade que a par das obras já previstas para o local, o mesmo seja dotado de dois ou três holofotes que, com carácter permanente, fiquem, de noite, a iluminar aquele que é o verdadeiro ex-líbris da nossa terra.

- A Comissão Promotora que era constituída pelo Eng. Mário Valente, João da Costa, Carlos Alberto Soares, Abilio Peixoto de Freitas e António Magalhães e a Câmara que tão aberta e receptiva se mostrou bem pode, também, ser considerada a impulsionadora do objectivo, merecem o reconhecimento e o agradecimento geral dos fafenses, assim como será necessário que alguém com possibilidades e capacidade procure, finalmente, nos alfarrábios identificar com clareza e exactidão a verdadeira história da «justiça de Fafe», que, pelo dinamismo e o esforço de alguns dedicados homens da nossa terra, ficou agora aqui perpetuada e que este jornal, para a posteridade, aqui deixa hoje convenientemente «perfilada».»

In Jornal “Justiça de Fafe” nº 187, 22 Outubro 1981

 

 

 

 


16/01/2022

O NEVÃO DE 1941

 



Neste dia 16 de Janeiro, no ano de 1941, a vila de Fafe acordou vestida de manto branco. Um dos maiores nevões da história fafense do século XX.









Imagens reproduzidas do "Almanach Illustrado" de Fafe











08/01/2022

CORPO JUDICIAL DA COMARCA DE FAFE FELICITOU A SUBIDA AO TRONO DE D. PEDRO V EM 1855


D. Pedro V 
Imagem da Internet DR


«Felicitação que a digna corporação judicial da Comarca da Villa de Fafe enviou a S. M. El-Rei D. PEDRO V pela sua exaltação ao throno.

 

Senhor

O corpo judicial da comarca de Fafe, vem hoje submisso aos pés de Vossa Magestade desempenhar um dever cheio de jubilo e contentamento.

Nesta occasião solemne em que toda a Nação desde o sumptuoso palácio do grande até ao alvergue do pequeno, se vestiu de gala, por ver raiar a aurora do dia 16 de Setembro, dia duplicadamente fausto e memorando, por que não só abriu uma nova epocha para Portugal, mas tambem encheu de vivas e bem fundadas esperanças o povo portuguez, de ter em Vossa Magestade um reinado livre, prospero e feliz: sim nesta solemne occasião não podia deixar o corpo judicial da comarca de Fafe, de vir desta forma felicitar a Vossa Magestade por se assentar em um Throno cheio de gloriosas recordações, e no qual outr’ora se assentaram os sábios senhores D. Diniz, e D. Duarte; o querido e amado do povo portuguez o Senhor D. João I; o pacifico senhor D. Pedro II, e o venturoso senhor D. Manuel, os quaes todos Vossa Magestade não só imitará, mas até excederá, mostrando se um Rei tão sábio tão querido, tão pacifico, e tão venturoso, como elles o forão.

E’ Real Senhor o que de coração deseja a Vossa Magestade a corporação judicial da Comarca de Fafe, a qual apresentando a Vossa Magestade os seus vivos sentimentos e desejos, igualmente rende a Vossa Magestade um sincero tributo e homenagem da sua profunda submissão dedicação e obediencia, ditada não só pelo rigoroso dever, mas tambem pelo intimo jubilo e contentamento de que se acha possuida pela ascensão de Vossa Magestade ao Throno de Seus Augustos Maiores a Quem Deus conserve dilatados annos a preciosa vida.

Fafe 21 de Setembro de 1855

O Juiz de direito – Luiz Antonio Correa de Moraes e Amaral – O Juiz de direito 1º substituto – Francisco Leite de Castro – O delegado – José Guilherme da Costa (Lua), Contador e distribuidor – Joaquim Jose da Costa Novaes O escrivão de direito – João Bernardino Rodrigues Dourado. – O escrivão de direito – Estevão Pereira Leite – O escrivão de direito – Antonio Carlos de Araujo Motta. – O official de diligencias – Amaro Gonçalves – Idem – Antonio Baptista. – Idem – Pedro Cardozo.»


Fonte: “O Pharol do Minho”, nº 175, 18 de Outubro de 1855


Fonte:

https://www.csarmento.uminho.pt/site/s/hemeroteca-bpb/item-set/161602


Biografia de D. Pedro V

https://www.arqnet.pt/dicionario/pedrov.html

 

 


 

02/01/2022

A SENHORA DE ANTIME NO ALMANACH DE LEMBRANÇAS LUSO-BRASILEIRO DE 1859

 

Imagem da Senhora da Misericórdia de Antime






«Senhora d’Antime. – É uma romagem de máxima nomeada no concelho de Fafe e na parte oriental inteira do districto de Braga. Chama-se-lhe tambem romaria da Senhora do Sol e romaria da Senhora da Misericordia, em virtude do fervor das supplicas e do intenso da fé com que os povos se endereção a esta Senhora, nas faltas de chuva ou de sol.

A imagem da Virgem é de pedra fina (granito metamorphico), com braços postiços, e sem pés nem pernas, nem feitio algum de estatuária, alem do rosto unicamente. Tem outo arrobas de peso, e está collada em um tosco andor antigo de outo arrobas tambem, a que dão o nome de charola da Senhora.

Dá a tradição por apparecida esta imagem no Monte de S. Jorge, entre Fafe e Cepães, e entre a freguezia d’Antime igualmente; monte d’uma boa légua de comprido e meia légua de largo, onde abundão grandes pedreiras de pedra fina (granitos metamorphicos especialmente), d’envolta com granitos effusivos duríssimos, entre os quaes apparecem ás vezes bellos granitos porphyroides; granitos explorados todos incessantemente, e os metamorphicos sobre tudo, para as construcções nas convizinhanças de Fafe em redondo, até uma boa légua ás vezes.

Tambem n’este mesmo monte «de S. Jorge Magno», venera o povo o penedo da pegadinha, em commemoração da crença que tem, das pégadinhas que no dito penedo deixara impressas o jumentinho da Senhora, indo ella uma vez a cavallo por estes sítios.

Celebra-se a funcção da SENHORA D’ANTIME, com vésperas, no 2º domingo de Julho, na sua fréguezia reitoral de Santa Maria do mesmo nome, a um quarto de légua para o sul da villa de Fafe; fazendo-se pela manhã o anniversario das almas, com seu sermão appropriado á festa. No domingo de manhã, pela volta das 10 horas, sahe d’Antime para a igreja de Fafe a procissão da SENHORA, fazendo-se então nesta igreja matriz exposição do Sacramento, com sua missa cantada, e o competente sermão, e pela volta das 6 horas da tarde regressa para a respectiva fréguezia, no meio de numerosíssimo concurso de romeiros, como na sahida d’Antime para Fafe.

Era outr’ora ainda mais galhofeira do que hoje, esta romagem d’Antime: chegava quasi a delírio o affervorado das salvas da companhia de mosqueteiros da procissão, não só na sahida e na volta d’ella, mas sobre tudo no acommettimento de um castello fictício, de propósito erigido para dar mais realce á funcção e para a tornar mais estrepitosa; o castello a final tomado era abrasado em chammas pelos mesmos mosqueteiros, depois de finjido um apparatoso conflito de sitiantes e sitiados, e vencido a final o Rei mouro acastellado. Dá a tradição por origem d’esta finjida peleja, muito victoriada dos romeiros em chusma, a commemoração d’antigos feitos dos povos da localidade na expulsão dos mouros, quando era senhor e povoador de Fafe, nos primeiros tempos de nossa independência, D. Egas Fafes, filho aguerrido do aguerrido D. Fafez Luz, alferes do Conde D. Henrique, primitivo tronco genealógico da nossa dynastia affonsina.

No meio das folias e extravagancias da romaria, tem ficado algumas vezes esmagados alguns dos conductores da charola debaixo do seu excessivo peso. Costumão ser 16 em geral, para pegarem revesados aos oito braços, ou banzos da dita charola da Senhora, os valentões da procissão, valentões que se offerecem com antecipação de um ou dois annos ás vezes, e que não conseguem esta graça especial dos mesarios da Senhora, senão a poder de supplicas, empenhos e sollicitações. Não é todavia a mera ostentação de forças e de robustez de corpo a que assim faz deprecar a graça de carregar com os banzos da charola aos hombros: é especialmente porque têem para si os mancebos da localidade (Fafe e Antime sobre tudo) não serem bem succedidos nos seus casamentos, se não pegarem primeiro ao andor da Senhora. N’essa occasião, para elles da maior expansão de coração juvenil, costumão collocar esses mancebos dos banzos os seus ramos de perpetuas na charola, aos quaes se dá o nome sacramental de pinhas da Senhora d’Antime.»

J. J. da S. Pereira-Caldas (Braga)



Fonte:


22/12/2021

O ESCUTISMO FAFENSE NASCEU EM REVELHE NO ANO DE 1945


Recorte do jornal "O Desforço", 3 de Janeiro 1946


 

Por iniciativa persistente do Padre Manuel Vaz, pároco de Revelhe, em 23 de Dezembro de 1945, foi criada a primeira “Alcateia” do C.N.E. do concelho de Fafe.

Pelas colunas do semanário “O Desforço” de 3 e 24 de Janeiro de 1946, chegou-nos a notícia da génese do escutismo fafense, há precisamente 76 anos.

«Está de parabéns o venerando pároco da freguesia snr. P.e Manuel Vaz que não descansou enquanto não viu representado no deu rebanho o C.N.E.; depois de muitos sacrifícios, canseiras e, porque não dizê-lo, dissabores, viu finalmente realizado o seu sonho de três anos de apostolado.»

Na noite de 22 de Dezembro, após uma “Velada de Armas”, com aigreja paroquial “repleta de fiéis” e a presença do Secretário Nacional do C.N.E., padre Arlindo Ribeiro da Cunha, realizou-se um “Fogo de Conselho”, seguindo-se as “orações da noite”.

Pelas 7,30 horas do dia 23 de Dezembro, na missa matutina, os lobitos e escuteiros presentes receberam a comunhão.

Tomado o pequeno-almoço, na missa das 11 horas, celebrada pelo pároco e Assistente local do Corpo Nacional de Escutas, P.e Manuel Vaz, procedeu-se às Promessas do primeiro grupo de lobitos de Fafe. Casimiro da Cunha, chefe da nova Alcateia, fez também a sua Promessa, perante um templo “a abarrotar de pessoas”, com a presença de escuteiros vindos de Braga e Guimarães.

No final da cerimónia todos os escuteiros presentes desfilaram pelos arredores da igreja paroquial de Revelhe.

A actividade programada para a tarde daquele domingo. 23 de Dezembro, não teve lugar devido ao “mau tempo”.

Ficou assim iniciado o movimento escutista no concelho de Fafe, com a criação da “Alcateia 60” do C.N.E., na freguesia de Santa Eulália de Revelhe.




Padre Manuel Vaz, fundador do Escutismo em Revelhe, Fafe
Foto dos anos 50 do séc. XX, tirada em Moçambique
(Colecção particular)



 

PADRE MANUEL VAZ (1919 – 1996)

Apontamento Biográfico

 

«Filho de Bernardino Vaz e de Maria de Castro, Manuel Vaz nasceu na freguesia de Lobeira, Guimarães, a 4 de Dezembro de 1919.

Frequentou o Seminário e foi ordenado presbítero em 19 de Setembro de 1942, sendo, nesse mesmo ano, colocado nas paróquias de Revelhe e Vinhós, do concelho de Fafe, fazendo o primeiro batismo em 24 de Outubro de 1942, e o último em 29 de Maio de 1949.

Foi fundador do Escutismo Católico (CNE) na paróquia de Revelhe, a primeira do concelho, (23 de Dezembro de 1945).

Para isso, e por se tratar de uma época de pobreza generalizada (estava-se na ressaca da guerra civil de Espanha e em plena II Guerra Mundial), chamou e manteve no salão paroquial durante semanas e a expensas suas um oficial de sapataria que confeccionou calçado para dezenas de adolescentes.

No Acampamento Nacional de 1948 no Bom Jesus do Monte já tomou parte o Agrupamento de Revelhe.


Fonte da imagem:


Encaminhou para o Seminário vários jovens da paróquia que chegaram a totalizar nove.

Em Junho de 1949 partiu para Moçambique, sendo nesse ano nomeado professor do Seminário Menor de Santa Teresinha de Magude, em Lourenço Marques, e em 1950 da Escola de Habilitações de Professores indígenas, a cargo do arcebispado e sita em Alvor, Manhiça.

Superior da Missão de S. Roque de Matutuine, Maputo, de 1955 a 1975, exerceu cumulativamente, o cargo de Superior da Missão de Nossa Senhora das Mercês da Catembe, na ausência dos respectivos missionários. Fundou outras Missões, construiu várias escolas e capelas no mato, dois internatos, uma maternidade e um centro social.

Em 1964 foi nomeado cónego capitular da Sé de Moçambique e, por proposta da Conferência Episcopal, foi eleito para o Conselho Económico e Social de Moçambique para os Interesses Morais e Culturais, e, conjuntamente, Vogal da Acção Social no Trabalho de 1963 a 1974. Nesse ano e até ao regresso a Portugal em Junho de 1975 lecciona Português e História no colégio de D. Dinis, de que era director e proprietário.

Regressado a Portugal, leccionou durante três anos na Vidigueira, Alentejo, passando depois pelas Escolas Secundárias da Veiga e de Vizela, em Guimarães.

Uma vez fixado em Guimarães, foi capelão do Hospital Distrital, Reitor da Igreja de Santo António dos Capuchos e capelão da igreja da Misericórdia e de S. Pedro, do Toural.

Faleceu em 10 de Janeiro de 1996, no Hospital de Nossa Senhora da Oliveira. Presidiu às exéquias o arcebispo de Braga, D. Eurico Dias Nogueira e concelebrou o Bispo de Vila Real, D. Joaquim Gonçalves.

Foi sepultado na sua terra natal.»

 

Retirado de:

Gonçalves, Joaquim e Soares, António Franquelim Neiva, “Párocos de Revelhe e Padres Naturais da Paróquia, D. Fafes, Revista Cultural, n.ºs 17 e 18, Câmara Municipal de Fafe, 2011, pp. 130 e 131.



Notícia do semanário, "O Desforço"


Recorte do jornal "O Desforço", 24 Janeiro 1946


 

19/12/2021

TRASLADO DE DOCUMENTOS REFERENTES AO CASAL DE CALVELOS 1327



Fonte da imagem:


Traslado dos seguintes documentos referentes ao casal de Calvelos passado a requerimento do mestre-escola do Porto e abade de S. Gens, em Guimarães, na casa dos tabeliães a 6 de Maio da era de 1365:

1 – Resposta de Afonso Anes, juiz de Montelongo, sobre a entrega do dito casal, escrita pelo tabelião de Montelongo Giraldo Esteves a 19 de Outubro da era de 1344.

2 – Sentença de João Fernandes, juiz de Montelongo, sobre demanda acerca do dito casal, escrita pelo mesmo tabelião a 4 de Maio da era de 1346.

3 – Declaração de Lourenço Rodrigues, porteiro de Montelongo, acerca da entrega do dito casal, escrita em […] a 8 de Outubro da era de 1347 pelo tabelião Estevão Pais.”

 

18/12/2021

BENZEDEIRAS DO SÉCULO XIX


BENZEDEIRAS

Há em Fafe, e em outras mais partes, dessas mulheres de virtude, que curam com palavras os desfiamentos dos braços e das pernas.

Poem para isso ao lume um púcaro com água, fazem-na ferver, e quando a fervura se activa, vazam então a agua num alguidar ou bacia, e põem o púcaro sobre ela com a boca para baixo, colocando depois a parte aberta ou desfiada do doente por cima do dito púcaro.

Toma então a benzedeira uma maçaroca de linho cru, fiada de propósito para semelhante objecto, enfia uma agulha nesse linho, e passa-a deste modo por baixo da parte doente, dando voltas sucessivas com o fio enfiado do linho, até à total, ou quase total absorção da água pelo púcaro, travando-se então o seguinte diálogo:

Benzedeira – Eu que é que aqui coso?

Doente – Carne aberta, fio torto.

Benzedeira – Isso mesmo é que eu coso:

Em louvor de S. Silvestre,

Quanto eu fizer, tudo preste.

 

E se o púcaro, durante este tempo da repetição das palavras de virtude, chegar a absorver a água toda, ou quase toda, sobre a qual está de fundo para cima e de boca para baixo, ficará então a parte torcida de todo sã da abertura ou desfiamento; aliás não poderá o enfermo sarar daquela vez, e ficarão sem virtudeas palavras da benzedeira.

Não é o primeiro púcaro que se enche na fonte, mas só o décimo, depois de cheios e despejados a fio os nove primeiros, o que se põe ao lume.

E quando, depois da fervura, o despejam e emborcam sobre a água, costumam colocar-lhe no fundo e em cruz, umas contas, um pente e uma tesoura, antes de repetir a fórmula.

Esta benzedura porém sofre algumas variantes de processo em algumas terras vizinhas.

 

F.M. da Cunha (Fafe)

 

Transcrito (com alteração ortográfica) do:

“ALMANACH DE LEMBRANÇAS LUSO-BRAZILEIRO” de 1859

Por: Alexandre Magno de Castilho

Lisboa, Imprensa Nacional, 1858

Página, 153