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31/10/2021

O PADRÃO DA INDEPEDÊNCIA

 


Padrão ou cruzeiro da Independência


São muitas as cidades vilas e freguesias de Portugal que conservam Padrões da Independência, marcos comemorativos erigidos em 1940, ano das grandes comemorações dos centenários: 800 anos da Independência de Portugal (1140) e dos 300 anos da sua Restauração (1640). Um duplo centenário que o Estado Novo de Oliveira Salazar enalteceu com as mais diversas manifestações, um pouco por todo o país.

Ao mesmo tempo que foram levantados os padrões alusivos à independência, em 1940, Portugal assistiu a inúmeras manifestações culturais de índole regional e ao arranque de um número considerável de obras de fomento, de assistência, de instrução e outras, que materializaram os festejos maiores da nação portuguesa naquele período.

Em Fafe, as comemorações dos centenários da independência nacional extravasou a festa: foi apresentada a primeira bandeira com as armas da vila, e inaugurados edifícios públicos; dos Correios, do abastecimento de água e da Escola da Feira Velha, para além da apresentação pública do Padrão da Independência.

A 881 anos da independência de Portugal e 381 anos da sua restauração, lembramos o Padrão fafense dos centenários, erigido no Parque 1º de Dezembro de 1640, ali em frente da antiga Estação de Caminhos de Ferro.

A primeira pedra do Padrão da Independência ocorreu em sexta-feira, 17 de Maio de 1940, por iniciativa da Comissão de Festas a Nossa Senhora de Antime (Festas da Vila). Ao acto, assistiram “centenas”de populares, autoridades e o Corpo de Bombeiros Voluntários de Fafe. A banda de Revelhe abrilhantou, “subindo ao ar uma girândola, na ocasião da colocação da pedra. Discursaram alusivamente o Pe. Manuel Basto (Santa Cruz), Dr. António Martins de Freitas, presidente da Câmara Municipal e Dr. José de Barros.”


A notícia do jornal “O Desforço”

«Na sexta-feira de tarde (17 de Maio de 1940) realizou-se a cerimónia de colocação da primeira pedra para o Cruzeiro da Independência que se vai levantar no Jardim da Estação por iniciativa da Comissão das Festas a Nossa Senhora de Antime (Festas da Vila) e que fica aí a atestar, pelos séculos fora, a Fé, o Bairrismo e o Patriotismo de um povo afincado à Crença e de uma colectividade que, incumbindo-se no ano áureo dos centenários de destacar em Fafe com umas festas mais pomposas, deixa gravado o seu nome nesse padrão a inaugurar por ocasião das mesmas festas.

Ao acto, que foi solene, assistiram centenas de pessoas, elementos oficiais, comissão das festas, bombeiros, etc., tocando a banda de Revelhe e subindo ao ar uma girândola na ocasião da colocação da pedra.

O auto foi assinado por muitas pessoas.

Discursaram alusivamente o snr. Pe.  Manuel Basto (Santa Cruz), dr. António Martins de Freitas, presidente da Camara e dr. José Barros, que salientaram o significado do acto pela Fé, pelo Bairrismo e pelo Patriotismo que ele encerrava.

Muitas palmas e muitos vivas.»

In: O DESFORÇO, 23 maio 1940

 

AUTO DA COLOCAÇÃO DA PRIMEIRA PEDRA DO «CRUZEIRO DA INDEPENDENCIA»

Aos dezassete dias do mês de Maio, do ano de mil novecentos e quarenta (ano XV da Revolução Nacional) nesta vila de Fafe e Parque 1º de Dezembro de 1640, onde se encontrava a Exma Câmara Municipal dêste concelho com o Reverendo Pároco desta freguesia de Fafe – Exmo Padre Manuel Domingues Basto, Comissão de Festas a Nossa Senhora de Antime, autoridades e associações locais, pessoas gradasv e muito povo, o presidente da comissão das referidasv festas expoz que a Comissão, da sua presidencia, tendo tomado a iniciativa da construção do «Cruzeiro da Independencia»; para perpetuar a memoria das comemorações nêste ano aureo dos Centenarios da Fundação e Independencia da Nacionalidade, desejava colocar a primeira pedra deste monumento, e convidar o Exmo Pároco a proceder à bênção da mesma pedra.

Acedendo a êste convite, o Reverendo Pároco procedeu, com tôda a solenidade do ritual, à bênção da primeira pedra do «Cruzeiro da Independencia», e usando, findo esse acto, da palavra alargou-se em considerações para demonstrar como são os «Cruzeiros da Independencia» a forma mais exacto e frisante de sintetizar na pedra de um monumento tôda a razão da nossa grandeza histórica e tôdo o sentido e finalidade da nossa epopeia, e como a Cruz resume e compendia tôda a doutrina católica e tôda a espiritualidade que animou e alentou os portuguêses nas suas lutas para obter e firmar a independencia de Portugal.

Seguidamente e com o cerimonial do estilo, o Exmo Presidente da Câmara Municipal, Doutor Antonio Martins de Freitas, por entre vibrantes manifestações de aplauso, procedeu à colocação da primeira pedra do «Cruzeiro da Independencia», usando igualmente da palavra.

Também usou da palavra sôbre o acto que vem de realizar-se o Exmo Doutor José de Barros e Vasconcelos, Presidente da Comissão Concelhia da União Nacional, depois do que se deu por concluido êste mesmo acto.

De tudo, para constar, se lavrou, em duplicado, este auto, destinando-se um exemplar ao arquivo municipal e o outro a ser colocado, juntamente com uma colecção de moedas metálicas em circulação, na base do monumento, que vai ser assinado pelas pessoas presentes, depois de lido por mim, Aristides Carvalho Lopes de Souza, Secretario da Comissão das Festas, que o subscrevo e assino.

(seguem-se 44 assinaturas)

 

A Inauguração

No âmbito das Festas da vila em honra da Senhora de Antime, há 80 anos, em segunda-feira, dia 15 de Julho de 1940 as autoridades da época procederam à inauguração do “Padrão Comemorativo dos Centenários”, (1140 e 1640) erigido no jardim fronteiro à antiga Estação de Caminho de Ferro (Parque 1º de Dezembro).


Bênção do Padrão
Reprodução do "Almanaque Ilustrado de Fafe", 1941


«É obra da Câmara Municipal e da Comissão das Festas da Vila e Centenárias nesse ano Áureo. A gravura representa o Cruzeiro da Independência e o ilustre Pároco da vila de Fafe Rev.º Snr. Manuel Domingues Basto, solenemente paramentado, deitando-lhe a bênção, após a qual fez um eloquente discurso recamado de flores, de vibrações pátrias. Além de milhares de pessoas, assistem os Snrs. Sub-Secretário do Ministro das Obras Públicas Engenheiro Espregueira Mendes, Governador Civil Dr. José Joaquim d’Oliveira, Presidentes da Câmara Dr. António Freitas e da Comissão Concelhia da União Nacional Dr. José Barros e outras pessoas de representação.»

 In Almanaque Ilustrado de Fafe, 1941, p. 95




Fafe tem sabido conservar este padrão, testemunho histórico da confirmação da nossa independência nacional em 1 de Dezembro de 1640.

Um memorial que passa ao lado de muitos fafenses, talvez pelo desconhecimento do seu significado.

Agora que o espaço envolvente foi requalificado, está bonito, porque não colocar ali um placa interpretativa deste importante memorial?