24/03/2022

O BRASÃO DA CASA DA QUINTÃ DA LUZ


O Brasão

O brasão de armas da Casa da Quintã da Luz localiza-se sobre a entrada principal da fachada do imóvel. Foi esculpido em granito no século XIX e, segundo os especialistas, pela sua exuberância e riqueza de elementos, é um “excelente exemplo das imensas potencialidades da Arte Heráldica”. (1)

 

 

Lição heráldica

Classificação: Heráldica de família

Conjunto: Escudo ovalado assente em cartela decorativa com troféus sotopostos (estandartes, peças de artilharia, tambor... Elmo de grades)

Composição: Esquartelado.

Leitura: I e IV – Peixoto

                  II – Leite

                 III – Teles

Timbre de Peixoto: Um pelicano (No timbre deveria figurar um corvo marinho com um peixe no bico e nunca um pelicano).

I e IV – Xadrezado de 5 peças em faixa e 6 em pala.

II – Esquartelado: o 1º e 4º com três flores de lis, postas 2 e 1, o 2º e 3º com uma cruz florenciada e vazia.

III – Esquartelado: o 1º e 4º de ouro pleno (Meneses), o 2º e o 3º com leão (Silva).

 

 

(1) Este e outros brasões do concelho foram estudados pelo especialista da “ASPA”, Armando Malheiro da Silva e foram, primeiramente publicados no jornal “Diário do Minho” entre 1985 e 1990. Em 1986 a Câmara Municipal de Fafe reuniu as fichas dos 12 primeiros brasões estudados e publicou-os no 1º e único número dos “Cadernos Culturais”.

 

CARTA DE BRASÃO DE ARMAS PASSADA POR D. JOÃO V A ANTÓNIO PEIXOTO TELLES DE MENESES LEITE, MORADOR NA SUA QUINTA DA QUINTÃ, FREGUESIA DE SANTA COMBA DE FORNELOS

 

«D. João, por graça de Deus, Rei de Portugal e dos Algarves d’aquém e d’além mar e África, senhor da Guiné, e da Conquista, navegação do Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e da Índia, faço saber aos que esta minha carta virem, que António Peixoto Telles de Menezes Leite, morador na quinta da quinta, freguesia de Santa Comba de Fornelos, Concelho de Montelongo, me fez petição dizendo-me que ele vinha, por legítima descendência da nobre geração e linhagem dos Peixotos Leites Telles e Menezes, e que as suas armas lhe pertenciam de direito, e me pedia por mercê, que para memórias dos seus antecessores se não perder, e ele usar da honra das armas que pelos merecimentos de seus serviços ganharam, e lhe foram dadas a fim dos privilégios, honras, graças e merçês que, por direito, e por delas lhe pertencem lhe mandasse por dar minha carta das ditas Armas que estavam registadas nos livros dos Registos das Armas dos Nobres e Fidalgos de meus Reinos que tem “Portugal” seu principal Rei de Armas. Para o que me apresentou uma sentena de justificação de sua ascendência e nobreza, proferida pelo doutor Gonçalo José da Silveira Preto, meu Desembargador e Corregedor do Cível, nesta minha Corte e Casa da Suplicação, e feita por Tomás de Gouveia Barbuda, escrivão do dito juízo, na qual depois dele tirar inquirição de testemunhas, julgou o dito meu Corregedor ser o suplicante, de antiga nobreza, sangue limpo e legítimo, descendente das ditas famílias dos Peixotos, Leites, Telles e Meneses, por provar ser filho legítimo de Afonso Torrado Leite da Costa e de D. Francisca Telles de Meneses, moradores na sua quinta da quinta, freguesia de Santa Comba de Fornelos, do Concelho de Montelongo. Neto, pela parte paterna, de Bento da Costa e de sua mulher Mariana Ribeiro, moradores que foram na dita quinta, freguesia e Concelho, e pela materna ser neto de Manuel Telles de Meneses e de sua mulher, D. Isabel Teresa, e que o suplicante e seus antecedentes foram sempre tidos por pessoas de conhecida nobreza e como tais se tratam com cavalos, armas e criados e escravos, o qual tratamento conserva o suplicante por ser senhor de muitos bens, e vínculo de morgado, e também senhor da apresentação com seu voto da abadia da igreja da dita freguesia como o tiveram o0s ditos seus pais, sendo todos descendentes das famílias de seus apelidos sem neste haver raça de infecta nascença, e assim o suplicante como legítimo descendente das famílias de seus apelidos lhe pertencem as suas armas, as quais lhe mando dar nesta minha carta com seu Brasão, Elmo e Timbre como aqui são divisadas, e assim como fiel e verdadeiramente se acharão iluminadas e registadas nos Livros do dito “Portugal” meu rei de armas.

A saber um escudo esquartelado, no primeiro quartel, as Armas dos Peixotos, que são escudo enxadrezado de azul, e ouro de cinco peças em sacha, e seis em pala. No segundo quartel, as Armas dos Leites, que são esquarteladas, no primeiro, em campo verde, três flores de lis de ouro em roquete e, no segundo, em campo vermelho, uma cruz de prata pulmela e vazia de campo e, assim, os contrários. No terceiro quartel, as Armas dos Telles e Menezes, que são escudo esquartelado, no primeiro quartel, o campo de ouro, no segundo, em campo de prata, um leão de púrpura rompante e, assim, os contrários. No quarto quartel, outra vez a dos Peixotos. Elmo de prata, aberto guarnecido de ouro. Paquife dos metais e cores das Armas. Timbre, o dos Peixotos, que é um corvo marinho de sua cor, com um peixe de prata no bico e, por diferença, uma brica vermelha com um farpão de prata. O qual escudo e armas poderá trazer e traga o dito António Peixoto Telles de Menezes Leite, assim como as trouxeram e delas usaram os ditos nobres e antigos fidalgos seus antepassados em tempo de mui esclarecidos reis, meus antecessores e, com elas, possam entrar em batalhas, campos, peitos(?), escaramuças, e exercer com elas todos os outros actos lícitos da guerra e da paz, e assim as poderão trazer em seus firmais, anéis, sinetes e divisas, pô-las em suas casas e edifícios e deixa-las sobre sua própria sepultura e, finalmente, se poderá servir, honrar gozar e aproveitar delas em tudo e por tudo como  a sua nobreza convém.

Com o que quero e me praz que haja ele todas as honras, privilégios, liberdades, graças, mercês, isenções e franquezas que não e devem haver os fidalgos nobres e de antiga linhagem como sempre de todo usarão e gozam os ditos seus antepassados, pelo que mando a todos os meus desembargadores, Corregedores, juízes, Justiças, Alcaides e, em especial, aos meus reias de armas, arautos e passavantes e a quaisquer outros oficiais e pessoas, a quem esta minha carta for mostrada a ao conhecimento dela pertencer quem em tudo lho cumpram e guardem como nela é contido sem dúvida nem embargo algum que nela lhe seja posto, porque assim é minha mercê.

El Rei Nosso Senhor o mandou por Manuel Pereira da Silva, seu rei de armas. Frei Manuel de Santo António, da ordem de S. Paulo e reformador do cartório da Nobreza, a fez em Lisboa aos vinte e sete dias do mês de Janeiro do ano de mil setecentos e quarenta e nove.»

Seguem-se as assinaturas.

 

Esta Carta de Brasão, concedida por D. João V a António Peixoto Telles de Menezes Leite, segundo morgado da Casa da Quintã da Luz, que nunca chegou a casar, chegou até nós em cópia de projecto. A carta original, supostamente, perdeu-se aquando do incêndio do Cartório da Nobreza no terramoto de 1755. Um dos originais esteve guardado no Solar da Luz e, alegadamente, na posse da família descendente, Magalhães e Menezes.

«Na casa conservam-se ainda inúmeros documentos de interesse para a história da família, alguns pergaminhos, árvores genealógicas e uma carta de brasão de armas».

 

In Cadernos Culturais, nº1, Brasões do Concelho de Fafe, primeira parte, Câmara Municipal de Fafe, 1986, p. 33.