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01/11/2021

A INAUGURAÇÃO DO CAMINHO DE FERRO GUIMARÃES A FAFE NO "INDEPENDENTE" DE GUIMARÃES


A partida do comboio inaugural na Estação de Guimarães

 



Reprodução do jornal "Independente", nº 295, Guimarães, 29 de Julho de 1907, p.3


Transcrição 



Caminho de Ferro de Guimarães a Fafe

«Com a inauguração do Caminho de Ferro de Guimarães a Fafe, que, como estava anunciada, teve lugar no domingo passado,(21 de Julho de 1907) realizou-se por completo uma das aspirações mais ardentemente desejadas por aquela formosa vila e que constitui um importantíssimo melhoramento que muito há-de contribuir para o alargamento das relações comerciais e económicas das duas localidades ligadas pela nova linha férrea.

Há perto de 20 anos que o falecido António de Moura Soares Veloso, honrado gerente da Companhia do Caminho de Ferro de Guimarães, trabalhava para a realização de tão notável melhoramento de interesse publico. Mas a sua morte prematura fez com que o ilustre morto não visse realizada a sua obra, apesar do esforço, da tenacidade e da persistência com que trabalhou para a consecução do seu desiderato.

Ainda bem que o actual gerente Sr. António Reis Porto, pondo toda a sua inteligência e boa vontade ao serviço daquele importante melhoramento, pôde levar a cabo a obra iniciada pelo seu antecessor.

O comboio inaugural partiu da estação de Guimarães às 11 horas e 58 minutos da manhã, tirado por duas locomotivas que se achavam adornadas com flores e embadeiradas. A primeira era a «Porto», dirigida pelo engenheiro construtor da linha Sr. Francisco José Ferreira de Lima. A outra era a «Negrellos» na qual tomou lugar o Sr. Joaquim Lopes, chefe do movimento.

Logo que o comboio se pôs em marcha, as numerosas pessoas que enchiam a gare por completo e as imediações da estação, romperam em entusiásticas aclamações subindo ao ar girândolas de foguetes enquanto duas bandas de musica tocavam o hino nacional.

Em Paçô, que é a primeira estação da nova linha, o comboio inaugural era esperado por grande número de pessoas e pela comissão dos festejos de Fafe constituída pelos Senhores comendador dr. Arthur Vieira de Castro, conselheiro Florêncio Monteiro Vieira de Castro, Bernardino da Cunha Mendes e Luis Augusto da Silva Dourado.

Depois de uma demora de 15 minutos, o comboio pôs-se em marcha no meio de calorosas manifestações de entusiasmo.

Pouco antes da 1 hora da tarde o comboio deu entrada na estação de Fareja, onde a sua chegada era aguardada por 2 bandas de música e muito povo que levantou vivas entusiásticos.

No apeadeiro de Cepães também a passagem do comboio foi muito festejada.

Teve ali uma pequena paragem, seguindo o comboio inaugural logo para Fafe, dando entrada na estação da vila à 1 hora e 17 minutos da tarde.

Ali a chegada do comboio era aguardada por uma enorme ajuntamento de povo que se espalhava pelas imediações da estação. Logo que o comboio inaugural se avistou subiu ao ar uma grande girândola de foguetes e 3 bandas de música executaram o hino da carta no meio de um verdadeiro delírio.

Ao lado do cais da estação erguia-se uma tribuna de madeira para onde subiram os diversos convidados afim de se proceder ao acto da inauguração.

O auto inaugural foi lido pelo Sr. Francisco Garrido Monteiro, sub-gerente da Companhia e em seguida assinado pelas pessoas presentes.

Pelas 5 horas da tarde realizou-se o grandioso banquete de 120 talheres na Casa do Santo, que foi primorosamente servido pela Confeitaria Oliveira do Porto.

Às 10 horas e 15 minutos da noite partiu de Fafe o comboio expresso, que passou em Guimarães às 11 horas e 20 minutos, e seguiu para o Porto onde chegou à 1 hora e meia da noite.

As nossas felicitações cordiais ao Sr. Reis Porto.

 

REPRESENTAÇÃO

Na passagem do comboio inaugural da linha de Fafe pela estação de Fareja, foi entregue por uma comissão de cavalheiros de Jugueiros composta dos Senhores comendador Joaquim Valentim Pereira Guimarães, Antonio J. Leite Fernandes, Manoel Augusto Leite Fernandes, Francisco de Sampaio Guimarães, Antonio de Almeida, Diniz Lobo, Guilherme Fernandes Sobrinho, presidida pelos Senhores dr. Antonio Rocha Pereira e Manoel Rebelo de Carvalho, digníssimo administrador do concelho de Felgueiras, ao Sr. Dr. Joaquim José de Meira a representação que transcrevemos na integra do nosso colega «A Palavra»:

“Ilustríssimo e ex.mo Senhor dr. Joaquim José de Meira, muito digno representante de s. exª o presidente de conselho e ministro do reino, Sr. Conselheiro João Ferreira Franco Pinto Castelo Branco.

Os abaixo assinados, habitantes da freguesia de S. Pedro de Jugueiros, do concelho de Felgueiras, neste dia festivo em que pela primeira vez se repercute estridulo pela quebrada dos nossos montes tão queridos o silvo álacre da locomotiva, pregoeiro do Progresso e da Civilização, vem muito grata e respeitosamente saudar v. ex.ª como representante de s. ex.ª o Senhor conselheiro João Ferreira Franco Pinto Castelo Branco, ilustre presidente de conselho e ministro do reino e ao mesmo tempo depor em suas mãos esta representação que sintetiza não só o de há muito sonhado desejo dos signatários, mas o de toda esta ridente zona norte do concelho de Felgueiras, incontestavelmente uma das mais ricas e produtivas do país.

Ex.mo Senhor!

Desde há muito que os signatários e com eles o resto do concelho de Felgueiras pediam a passadas situações uma estrada de ligação que, derivando da estação de Fareja, do caminho de ferro de Guimarães a Fafe comunicasse com o concelho de Felgueiras, pela povoação do Assento, da freguesia de Jugueiros melhoramento este na diminuta extensão de três quilómetros aproximadamente. – Baldados porém foram todos os esforços; e, se houve alguma vez a esperança ridente da realização de tão importante como inadiável melhoramento que nos colocaria em rápida comunicação com o resto do país, feneceu ela logo ao começo em virtude de confessa anomalia em serviços de viação, preterindo-se justíssimas reclamações, para só serem atendidas insofridas clientelas na renda de pedir em troca das mais injustificáveis veniagas.

Expediram-se telegramas oficiais, lavraram-se portarias, nomearam-se engenheiros para procederem aos respectivos estudos; jazeram porém numa imobilidade de esfinge os teodolitos e pentometros e nós, talqualmente Penélope de que reza a fábula, vimos feita e desfeita a teia de mentidas promessas, evocando por vezes ao nosso incrédulo espírito a celebre exclamação do venerando e estóico solitário de «Vale de Lobos»: «Isto dá vontade de morrer!!»

No meio porém de um acerbo desmoronar de ideias e de crenças, morta por completo a esperança rediviva de uma nova era de redenção pátria, surge ao fim a espartana e altiva figura da justiça guiada pela imperterrita e inquebrantável mão do ilustre homem de Estado a quem v. exª neste momento tão dignamente representa e o país começa de respirar um influxo vivificante sentindo-se rejuvenescer sob a inteligência e sábia administração que desfruta, bendizendo o feliz momento em que sua Magestade El-Rei houve por bem chamar aos conselhos da Coroa o governo que tão patrioticamente nos governa. E assim, neste momento em que outra vez nos assoberba vivida e fúlgida como nunca, nós vimos, ex.mo Senhor, suplicar instantemente para que, assim como tem sido atendidas as reclamações justas de outros povos, assim o seja este nosso pedido, conseguindo s. ex.ª o presidente de conselho, ordene S.M. El-Rei que, pelo ministério da pasta das obras publicas, comercio e industria se proceda aos estudos da pretendida estrada de ligação da estação de Fareja, com o concelho de Felgueiras com derivação pela ridente povoação do Assento, da freguesia de Jugueiros, melhoramento este de capital importância e para a realização do qual desde já oferecemos a quantia graciosa de um conto de reis e a maior parte dos terrenos gratuitos. E, nada mais pedimos, ex.mo Senhor, nem outra coisa suplicamos senão que seja v. ex.ª o interprete deste nosso ardente desejo perante s. ex.ª o Senhor conselheiro João Ferreira Franco Pinto Castelo Branco, ilustre presidente de ministros e ministro do reino, a quem neste momento prestamos o fervoroso culto da nossa simpatia e respeitosa admiração, fazendo votos para que ao enviar-lhe v. ex.ª esta nossa representação, encontre ela no seu muito esclarecido animo a guarida que procura.

E a v. ex.ª a quem a laboriosa e fidalga cidade de Guimarães se orgulha em ter como um dos seus mais lídimos e prestigiosos filhos e cujo nome tem chegado até nós neste recanto de Entre Douro e Minho, nimbado pela tríplice auréola de politico experimentado, sapientissimo mestre e homem de ciência, confiadamente esperamos e a v. ex.ª pedimos seja o nosso medianeiro perante o ex.mo ministro do reino nesta pretenção que nenhuma outra coisa representa, senão o de engrandecer, tornando prospero o concelho e rincão onde nascemos.

O Sr. Dr. Meira, ouviu atenciosamente a leitura e em breves palavras agradeceu as homenagens prestadas, prometendo, no relato que tiver a fazer ao ilustre ministro do reino da missão especial de que fora incumbido, enviar a representação apresentada, prometendo ao mesmo tempo secundar tanto quanto possa particularmente ante s. ex.ª o Sr. Conselheiro João Franco com cuja velha amizade muito se honra, a justíssima reclamação dos signatários, cuja representação gostosamente aceita.»


 

15/10/2021

A INAUGURAÇÃO DO CAMINHO DE FERRO GUIMARÃES a FAFE NA REVISTA ILLUSTRAÇÃO PORTUGUEZA













Transcrição do texto:


«DE GUIMARÃES A FAFE

Inauguração da nova linha férrea

Com desusado brilho, foi inaugurada no dia 21 de Junho esta nova linha, situada numa das regiões mais pittorescas e alcantiladas do Minho.

Pertence este novo troço, de cerca de 22 Kilometros, á Companhia do Caminho de Ferro de Guimarães e constitue o prolongamento natural da sua rede.

Sae esta nova linha da estação de Guimarães agarrando-se ao magestoso monte da Penha, encimado com a estatua de Pio IX e um pittoresco hotel, e, durante quatro kilometros, sempre subindo, vae-nos mostrando soberbos panoramas que se estendem desde a cidade de Guimarães até ás alturas do Sameiro.

Rodeado um contraforte do monte da Penha, entra-se então no extensíssimo valle de S. Torquato.

E’ deslumbrante o panorama que a vista alcança; admiram-se no fundo do valle, que vamos percorrendo, os campos viçosos cercados pelas pittorescas arvores de vinho, o vinho d’enforcado.

Ao longe admira-se a massa imponente do sactuario de S. Torquato, que todos os annos dá origem a uma romaria das mais concorridas do Minho.

Ao longe, no ultimo plano, meio esfumadas, mas imponentes, erguem-se as cumiadas do Gerez.

Passamos outro tunnel e entramos na estação de Paçô, situada no ponto mais alto do traçado, a 150 metros de desnível da estação de Guimarães.

A algumas centenas de metros fica situado o solar do sr. Conde de Paçô Vieira, em privilegiada situação.

D’este ponto começa a linha a descer n’outro extenso e formoso valle, o de Fareja.

E’ a secção mais difficil e trabalhosa do traçado. Em alguns kilometros accumulam-se enoemes trincheiras e aterros. Há n’essa  secção pontos de vista deslumbrantes, especialmente no logar do Sevello, em que foi modificado o traçado primitivo, supprimindo-se um tunnel. Perde-se a vista desde as alturas da Penha até ás cumiadas de Lixa. Encontra-se a pequenina estação de Fareja perdida na montanha e passados instantes atravessamos uma sólida ponte de pedra situada sobre o pittoresco rio Sousa, que faria o enlevo dos pintores paizagistas. Começa a ultima subida, mais suave, para Fafe, aonde chegamos deixando á nossa direita a importante povoação de Cepães. Pouco antes de entrar em Fafe outro extenso panorama se desenrola á vista, desde as immediações da Póvoa de Lanhoso até Fafe.

Deve-se a remoção das dificuldades da construção d’esta linha ao sr. Conde de Paçô Vieira, quando ministro.

A construcção foi dirigida pelo sr. Engenheiro Francisco Ferreitra de Lima, que reviu o traçado supprimindo obras de arte importantes, como dois tunneis, e fazendo importantes economias.»

 In Illustração Portugueza, nº 76, Lisboa, 5 de Agosto de 1907


Ligações


AUTO DE INAUGURAÇÃO DO CAMINHO DE FERRO DE GUIMARÃES A FAFE

 


Reprodução do Almanaque Ilustrado de Fafe, 1943

«Anno do Nascimento de Nosso Senhor Jezus Christo de mil novecentos e sete, aos vinte e um de Julho, n’esta vila de Fafe e local da estação do caminho de ferro, em pavilhão especial, onde se achavam presentes os Exmos Antonio Reis Porto, gerente da Companhia do Caminho de Ferro de Guimarães; Francisco Ferreira Lima, - engenheiro director thecnico, da mesma companhia; Doutor Joaquim José de Meira, como representante do Exmo Conselheiro João Ferreira Franco Pinto Castello Branco, Presidente do Conselho de Ministros; Exmo Governador Civil substituto, em exercicio, Arthur Novaes Villarção, como representante do Exmo Conselheiro José Malheiro Reymão, Ministro das Obras Publicas, Commercio e Industria; Exmo Visconde do Paço de Nespereira (João), como representante do Exmo Conselheiro Jose Luciano de Castro, Conselheiro d’Estado e Ministro d’estado Honorario; Presidente da Câmara Municipal d’este concelho; comissão dos Festejos e mais pessôas gratas, logo após da chegada do comboio inaugural (12 horas e … minutos) o Exmo Antonio Reis Porto, na sua qualidade de gerente da companhia de caminho de ferro referida, tomando a palavra, disse: que era para si e para a companhia que representa da maior satisfação declarar inaugurada a linha ferrea de Guimarães a Fafe, prolongamento, do Caminho de Ferro de Guimarães, visto a auctorisação concedida pelo Governo de Sua Magestade para a exploração provisória, e assim, repleto, do mais intenso e vibrante enthusiasmo, ao mesmo tempo que saúda o povo de Fafe pelo desideratum da sua tão legitima aspiração, saúda tambem todos os cavalheiros e entidades que concorreram para este melhoramento.

Em seguida, usando da palavra o Sr. Presidente da Câmara, n’um Breve e eloquente improviso, saudou a Companhia de Caminho de Ferro de Guimarães, o seu digno gerente, todas as pessoas que contribuíram para trazer até nós o progresso ferroviário e o povo de Fafe.

E para constar se lavrou em duplicado, para ser um exemplar archivado na Companhia e outro para ser entregue ao Presidente da Câmara municipal, a fim de ser archivado na respectiva secretaria, e vae ser devidamente assignado, depois de lido por mim,»

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