09/12/2021

A INAUGURAÇÃO DO TEATRO-CINEMA NA IMPRENSA LOCAL DE 1924

 



A inauguração do renovado teatro de Fafe, em 10 de Janeiro de 1924, uma aspiração antiga de muitos fafenses, que assistiram à “decadência” da antiga casa de espectáculos de Fafe, foi motivo de grande regozijo.

O promotor da obra, José Summavielle Soares, transformou um “velho barracão”em uma das melhores salas de entretenimento da região.

O acontecimento não passou ao lado da imprensa local da época; os semanários “A Democracia”, “O Desforço” e “O Fafense”, deram o merecido destaque à abertura pública do Teatro-Cinema, tecendo rasgados elogios ao edifício e ao seu promotor.

Foram dias de festa os que se viveram na vila de outrora, agradada com o importante melhoramento, cujo eco jornalístico damos a conhecer.





 

 A DEMOCRACIA




«Uma festa interessante

A INAUGURAÇÃO

Do Teatro-Cinema de Fafe

Realizou-se no dia 10 do corrente a inauguração do novo teatro desta vila, reconstruído a expensas do grande benemérito de Fafe Ex.mo Dr. José Summavielle Soares.

Escolhida, para a Festa de Abertura, a companhia dramática da distinta actriz Aura Abranches, foi naquele dia levada á scena a soberba peça de Nicodemi «O Grande Amor».

A linda sala de espectáculos apresentava um aspecto brilhante.

Belamente iluminada com inúmeras lâmpadas eléctricas, destacava-se toda a sua suntuosa decoração, as lindas pinturas onde se sente perpassar o sopro da mais encantadora arte, os dourados fulgurantes, os motivos decorativos em tons graciosos e alegres, dando a tudo singular realce os bustos gentis das mais distintas damas desta vila que ocupavam os camarotes, quasi todas em lindas toilettes de baile.

A sala estava cheia, completamente cheia.

Pelas 21 e meia horas começou o espectaculo, sendo correcto o desempenho por parte de todos os artistas.

Cumpre especializar Adelina Abranches que interpretaram os seus papeis com inteligencia e sentimento, dando-lhes relevo e brilho.

No intervalo do 2º para o 3º acto quis a Câmara Municipal deste concelho testemunhar publicamente, naquela festa encantadora, o quanto Fafe deve ao homem ilustre que, sem se preocupar com interesses de mercantilismo, dotou esta formosa vila com tão importante melhoramento.

Convidado S. Ex.ª para ir ao palco, aí apareceu tambem a comissão executiva da Camara, composta dos Ex.mos dr. Artur Vieira de Castro, dr. Parcidio de Matos, dr. Manuel Moreira, Angelo Fernandes e Manuel do Vale Ribeiro, portanto o rico estandarte municipal o digno chefe da secretaria snr. Manuel Joaquim da Silva Peixoto.

O snr. dr. Parcidio de Matos, em frase burilada e correcta. Como sempre, fez um caloroso, mas justo elogio da obra já tão vasta do snr. dr. José Summavielle em prol desta vila, que disse ser a mais linda de Portugal.

Frisou como a sua passagem pela Camara Municipal foi profícua e inteligente, rasgando ruas, fazendo jardins, transformando largos, instalando a luz elétrica, fazendo o encanamento e aproveitamento das aguas para abastecimento da vila, etc. etc.

No hospital desta vila, onde durante alguns anos exerceu o cargo de provedor, tambem vincou bem a sua modelar administração, dotando o edifício, a par de outros importantes melhoramentos, com um lindo balneário e com uma sala de operações que é, sem duvida, uma das melhores da província.

Disse mais o snr. dr. Parcidio de Matos que S. Ex.ª, por último, brindara Fafe com uma sala de espectáculos tão linda, tão graciosa, como poucas haverá em Portugal.

E, frisando o que uma casa destas tem de útil e os benefícios que pode prestar sob o ponto de vista social e educativo, terminou por entregar ao homenageado o diploma de «Cidadão Benemérito do Concelho» com que a Câmara quis muito justamente honrá-lo, diploma que fora escrito em pergaminho e encerrado, com a cópia da acta em que tal deliberação foi tomada, numa rica pasta com emblemas em prata.

O sr. Dr. José Summavielle, visivelmente comovido, agradeceu a homenagem que vinha de lhe ser prestada, e afirmou que nada mais fazia, nada mais tinha feito do que o seu dever, pelo grande amor que consagra a esta linda terra.

Todos os espectadores, que de pé assistiram a esta homenagem, coroaram de estrondosas e prolongadas palmas tanto as palavras do snr. dr. Parcidio, como as do snr. dr. José Summavielle fazendo a este uma carinhosa ovação.

***

Terminado o espectaculo, realizou-se no amplo salão nobre do Teatro um baile oferecido pelo snr. dr. José Summavielle e ex.ma Esposa para solenizar a inauguração da nova casa de espectáculos.

O salão encheu-se com as mais gentis, com as mais distintas damas desta vila e algumas de fora, oferecendo um golpe de vista encantador.

Profusamente iluminado com artísticos lustres, o seu rico mobiliário, a sua pintura, os seus espelhos de cristal davam-lhe aspectos de uma grandiosidade enlevante.

Com a maior animação decorreu aquela linda festa até ás 7 horas do dia 11 dançando-se sempre com “entrain”.

Os Ex.mos dr. Summavielle e esposa e gentis filhinhas foram de uma amabilidade extraordinária para todos os convidados, que daquela festa, guardam, positivamente, as mais gratas impressões.

O serviço, abundantíssimo e primoroso, foi servido pela acreditada Confeitaria Oliveira, do Porto.

A orquestra para o baile foi a do Teatro-Circo, de Braga.

***

No dia 11 representou-se linda peça «Primorose», e no dia 12 «Madalena Arrependida» [texto ilegível].

Para terminar a série de récitas com que tão auspiciosamente foi inaugurado o novo teatro, levou á scena a companhia Aura Abranches o drama «Injustiça da Lei» cujo desempenho foi correcto, destacando-se, como sempre, Adelina Abranches, Aura Abranches e Alexandre de Azevedo.

No intervalo do 2º para o 3º acto deste ultimo espectaculo, o snr. dr. Jos´r Summavielle convidou a distinta atriz Aura Abranches para descerrar a lápide comemorativa da inauguração do teatro, que fora colocada no átrio do mesmo e se achava coberta com a Bandeira Nacional.

Nessa altura o Ex.mo dr. Manuel Morato, Juiz de Direito em Melgaço e que durante alguns anos exerceu nesta comarca o cargo de Delegado do Procurador da Republica, falou entusiasticamente, fazendo, num discurso elegante e alevantado, o caloroso elogio da obra do snr. dr. José Sumaviéle Soares, dirigindo tambem as suas felicitações á companhia dramática e á sua principal figura a gentil Aura Abranches.

Esta agradeceu em breves mas interessantes frases, dixendo graciosamente que ela e os seus colegas levavam de Fafe as melhores impressões, e que o povo desta terra se devia orgulhar do «amorzinho de teatro com que o snr. dr. Sumaviéle a quis dotar».

Em seguida a mesma distinta atriz descerrou a lápide de mármore, onde em letras de ouro se lê: «Inaugurado em 10-1-24 pela Companhia Aura Abranches».

O publico coroou esta cerimonia com entrepitosos aplausos, sendo levantados vivas ao snr. dr. José Sumaviéle, e a orquestra executou a Portuguêsa.

***

A orquestra dos espectáculos, sob a batuta do snr. Carvalho, regente da Banda de Revelhe, agradou muitíssimo, executando em todas as quatro noites de festa lindos trechos musicais.

Está-se procedendo no teatro á montagem do aparelho cinematográfico, que nos dizem ser o mais moderno e aperfeiçoado.»

In jornal “A DEMOCRACIA”, nº 129, 13 Janeiro 1924

 

 

O DESFORÇO




 

«Progresso de Fafe

Inauguração do «Teatro-Cinema»

Déz de Janeiro foi de festa para a nossa linda terra!

Inaugurou-se nessa noite o «Teatro-Cinema» - nome tão simples para obra tão grande.

As terras mais prosperas e mais formosas, os homens de mais talento e acção, as obras mais magnificas e mais encantadoras, são as que teem os nomes mais simples. Assim, este belo canteiro do Minho que todos admiram, chama-se só Fafe; um grande filho que se orgulha de possuir e que lhe tem dado dotes invejáveis, só quatro letras tambem tem o seu nome – Josè; a excelente obra da sua iniciativa que ahi se levanta na rua Mgr. Vieira de Castro é simplesmente - «Teatro-Cinema». Mais nada.

«Teatro-Cinema» lê-se cá fora: mas quem ler aquela singelesa de palavras não avalia o que lá dentro está: decoração a gosto, arte positiva, agradável disposição de tudo. Luxo e elegância desde o altivo salão níbre ao vasto palco e confortáveis camarins, desde a deslumbrante entrada principal á plateia, frisas e camarotes; desde o agradável terraço ao jardim lateraes.

Dignos de louvores são quantos colaboraram nesta obra importante: dignos de honra são: o técnico de «A Japoneza, Ld.ª», do Porto, sr. Duarte d’Almeida, que deu áquilo tudo um tom prodigioso, caprichando no mobiliário e adorno do salão principal, que é, no genero, um dos raros que devem existir; e os habeis pintores que com tintas multicolores fizeram realçar o tecto, imprimindo-lhe poesia e o artista da sacada em cimento que sobresae na frontaria.

«Teatro-Cinema» !

Quer dizer: ali, naquela casa modelo, poderão funcionar as melhores e maiores companhias e exibir-se as mais perfeitas fitas cinematográficas.

E assim foi que, quinta-feira passada, teve a honra de trabalhar pela primeira vez no sobredito teatro, inaugurando-o solenemente, a Companhia Aura Abranches, uma das melhores do paiz.

Representou O Grande Amôr, que maior não póde ser – o amor de mãe!

Aura Abranches, no papel de Maria Bini (professora) é que representou e muito bem esse grande amor. Perdêra uma filha que, devido á autoridade e inergia do sindico C. de F. (Sacramento) encontrara nove anos depois. No grande Amôr a distinta artista revelou naturalidade, arte, perfeição, como Adelina Abranches no papel de Directora se houve perfeitamente.

Mas quem foi a personagem mais importante da grande noite, da noite de triunfo, de alegria, de aféto, de galas, de glorias?

Foi precisamente, o homem de reconhecida inteligência e acção, o bairrista apaixonado, o engrandecedor de Fafe, o dono da admiravel casa de espectaculos que é o dr. José Summavielle Soares!

Foi ele, não podia deixar de ser!...

A Camara, representada pela sua ilustre Comissão Executiva – dr. Artur Vieira de Castro, dr. Manoel Moreira, Angelo Fernandes e Vale Ribeiro, com o seu estandarte, foi homenagia-lo ao palco, entre o 2º e o 3º actos, levar-lhe uma mensagem escrita em pergaminho e metida numa luxuosa pasta. Tinha-o proclamado cidadão benemérito do concelho de Fafe.

O ilustre vice-presidente dr. Parcidio, fez um discurso eloquente, brilhante, como ele sabe fazer, pondo em destaque a grande obra do filho desta terra: historiou a sua passagem pela Camara que foi eficaz, feliz, quer na abertura de ruas e aformoseamento de largos, quer na arborisação e jardinagem, etc.; deu luz á vila e resolveu as aguas na casa começada por seu avô José Florêncio Soares, a quem o orador aludiu com admiração e saudade; frisou a sua passagem pelo Hospital que dotou com um moderno balneário e perfeita sala de operações; não esqueceu porem a sua administração honesta, honrada, desinteressada; e toda essa obra coroada agora com a mais bela e moderna casa de espéctaculos que naquela noite se inaugurava.

Respondeu sua ex.ª de improviso com palavras felizes de vivo agradecimento, confessando o amor que alimenta por esta boa terra, mas como que querendo dizer que apenas cumpria o seu dever, que tudo isso que fez é pouco e que o teatro se deve a ele sim, mas que o auxiliou imenso a casa «A Japoneza Ld.ª», ali representada.

Valor e modéstia!

Quando a Camara apareceu no palco, as palmas foram estrondosas e demoradas, assim como depois do agradecimento do sr. Dr. Summavielle. A orquestra executou «A Portugueza» e tudo de pé e respeitosamente assistiu áquela passagem sublime da grande festa.

Estava feita a apoteose ao merecimento, ao trabalho, á honradez, á inteligência!

Grande Amôr!

Uma mãe que ali estava e que tem o nome de uma modesta mas linda flor – Margarida – como o devia sentir!

A outra alimentava o grande amor por uma filha que julgava ter perdido!

Esta, revigorava-lhe em labaredas, no coração, o grande amor por um filho que sempre tivera junto de si e que naquela noite de alegria via glorificado!

As mães querem aos filhos como Maria quis a Jesus!

Jesus foi unico no mundo!

Homens prodigiosos tem havido na terra!

Portugal tem tido grandes homens!

Ao lado dos homens importantes de Fafe enfileira em primeiro logar o dr. José Summavielle Soares!

E poderia enfileirar ao lado dos homens notaveis de Portugal se quizesse…

Na alta administração do Estado como seria desejada a sua colaboração!...

Não quere…

Fafe tambem precisa dele aqui para se engrandecer, para se elevar mais.

Fafe adora-o!

O teatro, repleto, na noite de 10 – senhoras e creanças, velhos e novos – mostrou quanto lhe quere, a simpatia que lhe dedica – nos aplausos que lhe fez.

Fafe!

Dr. José!

Simples nomes mas terra formosa, alma formosa!

Grande Amôr!

Grande amor que o segundo tem á primeira!

Bem escolhida peça de inauguração: - Grande Amôr!

Ao fim do terceiro acto da obra de Dario Nicodemi estava inaugurado com sumptuosidade o «Teatro-Cinema» a que concorreu bastante oficialidade do exercito, muitas famílias de fora e da terra.

A Camara, honrando, honrou-se!

O dr. José Summavielle atingiu o auge da estima!

E Fafe, que se deve orgulhar do monumento que ahi tem e que é uma honra para a terra, jamais deve deixar de concorrer a espectaculos ou cinemas, tal qualmente o fez na noite da inauguração e tres seguintes.

A seguir ao espectaculo realizou-se um baile no salão nóbrepara convidados da terra e de fora, que esteve animadíssimo, dançando-se até às 7 horas do dia 11-

“O Desforço”, admirador e amigo do dr. José Summavielle Soares, reitera-lhe os seus aplausos com um entusiástico e afétuoso:

Viva o dr. José Summavielle Soares!

***

Alem da imprensa local, assistiu ao espectaculo de inauguração o nosso presado colega do «Jornal de Noticias» do Porto sr. Armando Gonçalves, funcionário superior da Camara do Porto.

- «A Japoneza, Ld.ª», do Porto, foi a que ofereceu para o espectaculo de inauguração os lindos programas profusamente distribuídos.

- a orquestra, sob a regência do snr. Joaquim Carvalho, que executou admiravelmente, era composta de amadores e profissionais da terra.

- O pessoal do teatro usa todo fardas.

As três lindas peças que se apresentaram nas noites seguintes - «Primerose» e «Injustiça da Lei», agradaram muito, sendo os interpretes entusiasticamente ovacionados.

***

No domingo, entre o 2º e o 3º actos, o sr. Dr. Summavielle convidou a laureada actriz Aura Abranches a fazer o descerramento de uma placa de mármore com letras douradas colocada no átrio, onde leu, com surpresa para ela, os seguintes dizeres: - «Inaugurado em 10-1-24 pela Companhia Aura Abranches».

Falou nessa ocasião o snr. dr. Manoel Morato, ex-delegado nesta comarca e actualmente Juiz de Melgaço, que elogiou em frases elegantes a obra do dr. Summavielle, dizendo que ela trazia grande beneficio para a população deste concelho, quer pelo lado recreativo, quer pelo lado educativo e que sua ex.ª tinha tido a feliz ideia de escolher para a inauguração uma das melhores companhias portuguezas dirigida pela gentil actriz Aura Abranches-

Esta agradeceu graciosamente em palavras breves mas distintas, fazendo o elogio de Fafe de onde leva as mais gratas e saudosas recordações – e do seu povo, que é um povo educado, felicitando-o pelo bijou que possue. Palmas e vivas ao dr. Summavielle.

As gentis filhas deste ilustre homem ofereceram á Companhia dois lindos ramos de flôes naturais.

Rematou a cerimónia com a execução da «Portugueza»

In jornal “O Desforço”, nº 1592, 17 Janeiro 1924

 

 

O FAFENSE




«SOLÉNE INAUGURAÇÃO

Do

TEATRO-CINÊMA DE FAFE

Reconstruido a expensas do grande fafense, S. Ex.ª o Dr. Sumaviele Soares foi inaugurado no passado dia 10 do corrente, com extraordinário brilho e pompa, o novo teatro desta vila.

Esteve um acto sobremaneira digno de assunto. Imponente e magestosa foi essa festa, não só por o que ela representava, como tambem pela merecida homenagem que a digna Camara de Fafe rendeu a um dos mais distintos Homens do concelho.

O tema é vastíssimo e quasi igual á nossa boa vontade; porem, não nos passa pela mente a mais ligeira sombra de vaidade de o desenvolver. No conjunto destas circunstancias aí vai, á vol-d’oiseau, a descrição dessa suntuosa festa.

9 horas. Noite de inverno. Apesar da chuva miúda e impertinente que caía, notava-se grande movimento á porta do teatro. Escolhendo caminho seguro entre os automóveis e trens, detivemo-nos alguns momentos no vestíbulo, e depois, um pouco a custo, entramos.

A plateia e camarotes já se achavam literalmente repletos!

Que aspecto! Que efeito surpreendente!

Aquele teatro tão mimoso, tão colorido, tão cheio de luz, destacando as vaporosas e garridas toilettes de baile, que as gentis senhoras da nossa mais fina elite ostentavam, deu-nos a viva impressão dum descomunal e perfumado crisântemo, carregado dum sem numero de multicolores borboletas!

Belamente impressionados, recostamo-nos ao nosso fauteiul.

Corremos a vista em redor, e, depois de ouvirmos um pouco a rasoavel orquestra, subiu o pano, e a Aura Abranches encetou a representação da peça de Nicodemi, «O Grande Amor». Foram 3 actos emocionantes! Amor de mãe! E’ realmente o único amor a que se pode chamar Grande!

Dario Nicodemi não procurou somente escrever (como uma boa parte dos que escrevem para teatro) uma fantasia sugestionadora, não. A tortura d’aquela alma pela anciã de voltar a ver a sua filhinha querida diz muito mais.

Valendo-se d’um caso da vida pratica, Nicodemi prova-nos edificantemente a incomensurabilidade dum coração de mãe.

O desempenho, conquanto o Sacramento não estivesse nos seus dias felizes, satisfez, tendo que salientar-se o magistral trabalho da grande artista Adelina Abranches.

Passemos ao que mais importa. Aproveitando o intervalo entre o 2º e 3º acto, a digna Camara de Fafe, que tinha resolvido, em acta já lavrada, conceder a justa e bem merecida honra de Cidadão Benemerito do Concelho a S. Exª o Snr. Dr. Sumaviele Soares, veio ao paleo acompanhado de S Ex.ª

Nessa ocasião o imenso auditório ergueu-se, e o ilustre advogado desta vila Dr. Parcidio de Matos, em nome da Camara de Fafe, frisou numa alocução brilhante o quanto S. Ex.ª o Snr. Dr. Sumaviele Soares tem feito por esta linda terra. Feita a entrega do diploma que uma rica pasta encerrava, acabou por dizer que S. Ex.ª tem no coração de todos os Fafenses um verdadeiro altar de veneração.

O Snr. Dr. Sumaviele Soares, visivelmente comovido, agradeceu, e, com chave doiro, como sempre, modesto, fecha o seu eloquente discurso, dizendo: - «De forma alguma quero roubar, com o desalinho e desbarato das minhas simples palavras, o precioso tempo que resta para nos devertirmos».

Uma estrondosa salva de palmas rebentou por todo o auditório, sendo S. Ex.ª muito felicitado.

A noite acabou por um animado baile á rigore, oferecido por S. Ex.ª e Sua Ex.ª Esposa no Salão Nobre do Teatro, e para o qual, somente se achavam convidadas as melhores famílias da nossa Sociedade. Consta-nos que decorreu muito animado, e que foi esplendidamente servido. Acabou ás 7 da manhã.

No dia 11 representou-se a «Primorose», e no dia seguinte a «Madalena Arrependida».

Por absoluta falta de espaço é-nos interamente impossível fazer referencias sobre estes espectáculos, contudo, precisamos frisar, que tanto as peças como o desempenho, satisfez cabalmente.

A serie de representações da inauguração terminou com a peça «Injustiça da Lei», sendo, no intervalo do 2º para o 3º acto da referida peça, descerrada, pela distinta atriz Aura Abranches, a lápide comemorativa da inauguração do Teatro, e na qual se lê: «Inaugurado em 10-1-24 pela Companhia Aura Abranches.

Nesta altura o Ex.mo Dr. Manuel Morato, muito digno Juiz de Direito em Melgaço, fez num caloroso discurso o elogio da grandiosa obra de S. Ex.ª o Dr. Sumaviele Soares, e, na pessoa da gentil e distinta atriz Aura Abranches, dirigiu tambem as suas felicitações à Companhia Dramatica.

Aura agradece com talento e graça, coroando o publico esta cerimónia com muitas palmas e vivas a S. Ex.ª o Dr. Sumaviele Soares.

O serviço de Bombeiros foi feito pela denotada corporação dos Bombeiros 28 de Julho desta vila.

In jornal “O Fafense”, nº 11, 27 Janeiro 1924


Fachada do Teatro-Cinema, c. 1924