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30/09/2021

FAFE NAS MEMÓRIAS RESSUSCITADAS DE GUIMARÃES 1692

 







Memórias Ressuscitadas

da Antiga Guimarães

Torquato Peixoto de Azevedo, Padre

1692 .Fac-simile da edição de 1845, p. 484-485

© Sociedade Martins Sarmento | Casa de Sarmento

 

Capitulo 122º

Do concelho de Monte Longo

Para dar noticia clara do concelho de Monte Longo, devo voltar a Guimarães, e daqui sahir para nascente, distancia de duas legoas para entrar neste fértil concelho aonde há abundancia de trigo, e pão de segunda, vinho, azeite, e toda a casta de fructas, muitas trutas, e natas; aonde tudo é melhor de toda esta província d’entre Douro e Minho, é a cabeça do concelho a villa de Fafe, que consta de uma rua com nobres casas, e moradores, tem câmara, cadêa, e pelourinho, e os vereadores são por eleição do povo, com assistência do corregedor de Guimarães, e tem as freguesias seguintes.

Santa Eulalia, vigairaria anexa a Santa Marinha, do convento da Costa.

Santa Maria de Antime, reitoria da comenda de Chisto, da data dos duques de Bragança.

S. Martinho de Quinchães, abbadia de renuncia.

O mosteiro de S. Bartholomeu de Sanjães, antigamente Giães, fundado por D. Rodrigo Forjaz, para religiosos de S. Bento, o qual el-rei D. Affonso Henriques deo aos cônegos Refrantes, com o de Tolões, e S. Torquato, e deste foi o ultimo comendatário o pio João de Barros, que os doou á real Collegiada de Oliveira, cujo cabido apresenta vigários, e beneficiados, com obrigação de missas.

Santa Maria de Silvares, abbadia de renuncia.

Santa Maria de Ribeiros, vigairaria anexa ás religiosas de Santa Clara de Guimarães.

Santo Estevão de Vinhós, vigairaria anexa a S. Thomé de Travaços.

S. Thomé de Esturãos, abbadia de renuncia, da nomeação da família de Costas Peixotos.

S.Martinho de Armil, vigairaria anexa ao mosteiro de Pombeiro, de S. Bento.

S. Martinho de Medello, vigairaria anexa ao hospital de S. Marcos de Braga. Desta freguesia sahiramdous irmãos José Simões,e Paulo Simões, e foram buscar fortuna ás Indias de Hespanha; onde se estabeleceram negociantes na cidade de Mexico, na qual foram os primeiros, e de maior credito, nunca cazaram, nem fizeram repartição de bens, por sua morte os deixaram a seus parentes, os quais cobraram a parte que lhe veio de tão longe á mão, não se esqueceram da freguesia em que foram baptizados, que mandaram redificar, dotaram de ornamentos ricos, e dos necessários, estabeleceram a capella de Nossa Senhora de Conceição, com missa quotidiana: e por fim consta de seu testamento, que tem esta clauzula pia, e generosa. Declaramos que no debemosnadie a nadie, nem nadie a nos debenadie.

E’ este concelho mui abundante de todos os fructos, de muitas agoas, e muita criação, e tem setecentos e desoito vizinhos.

https://www.csarmento.uminho.pt/site/s/arquivo-digital/item/94123

CAPITULO 123º

Do couto de Moreira del-Rei

No districto do concelho de Monte Longo, está situado o couto de Moreira del-Rei, da real Collegiada, que consta da freguesia de S. Martinho de Moreira del-Rei, onde todos os moradores são privilegiados das taboas vermelhas que os reis concederam a esta Senhora, pelo que é muito povoada, e passa de trezentos vizinhos, é reitoria da coroa, e comenda de Chisto.

 https://www.csarmento.uminho.pt/site/s/arquivo-digital/item/94125

CAPITULO 124º

Do couto de Pedraido.

O couto de Pedraido também está no concelho de Monte Longo, e foram antigamente senhores dele os Vasconcellos, Vieiras de Briteiros, consta somente de uma freguesia, que é vigairaria anexa ao mosteiro de S.Miguel de Refoyos de Basto, de S. Bento, tem sessenta e três vizinhos, que vivem pobremente por ser montanha falta de tudo.

 

CAPITULO 125º

Da Honra de Cepães.

A Honra de Cepães consta da freguesia de S. Mamede, de quem é senhor o conde de Unhão, que apresenta justiça, tem cento vinte e um vizinhos bem assistidos de todo o necessário.

https://www.csarmento.uminho.pt/site/s/arquivo-digital/item/94129

 

CAPITULO 141º

Do rio Avizella

As excelências do rio Avizella tem manifestado alguns escriptores, mas como são muitas, nunca tem sido todas explicadas, e todos se tem esquecido de falar em seu nascimento, curso, e pontes, o que é meu intento manifestar.

Tem o rio Avizella seu nascimento entre norte e nascente, na serra do Couto de Pedraido, e despenhando-se por ella ao lugar de Calcões, corre separando a freguesia de S. Pedro de Queimadella, do termo desta villa, a buscar seu nome no lugar de Avizella, situado na freguesia de S. Thomé de Travaços, e desta vae á de Passos, começando nella a dividir a Oriente a terra desta villa pelo concelho de Monte Longo em lugar de Bouços em que tem uma ponte de pedra lavrada, com o nome do mesmo lugar, que tem junto a capella de S. Bartholomeu,  e correndo a sul pela freguesia de Galães chega á honra de Cepães, donde meia legoa de distancia vae dividir o termo desta villa do couto de Pombeiro, aonde tem a ponte de arcos de pedra do nome do dito couto, aonde há muita passagem para Castella, e província de Traz-os-Montes.

Caminhando desta parte para vendaval divideem duas partes a freguesia de Villa Fria, fertilizando suas terras, e ali recebe agoas da ribeira de Sá: e passando por Nossa Senhora de Crasto vae ás antigas ruinas da cidade de Caldas, aonde cresce com suas agoas quentes, que tem dado saúde a tantos enfermos, aonde está a grande ponte de pedra chamada Caldas, muito frequentada de passageiros, e dahi a poucos passos tem a ponte de S. Thomé.

Sahe o Avizella da ponte de Caldas mui crescido, por receber muitos ribeiros naqueles lugares, e mais abaixo tem a ponte de Negrellos de arcos de pedra, e muito nomeada, e dali se avizinha ao devoto mosteiro de Santo Thirso, de religiosos bentos, e neste lugar acham os moradores de Barcellos barca de passagem para a cidade do Porto.

Entre ambas as Aves se junta este rio Avizella com o Ave, onde perdeu seu nome: e dali ambos juntos vão á ponte de Lagoncinha de que tenho falado, e assim dou fim a numerar os rios e pontes vizinhas desta villa.

 https://www.csarmento.uminho.pt/site/s/arquivo-digital/item/94161