FAFE NO DICIONÁRIO “PORTUGAL
ANTIGO E MODERNO” DE PINHO LEAL – 1874
FÁFE – villa, freguezia, Minho, 10
Kilometros de Guimarães, 30 Kilometros ao NE. de Braga, 365 ao N. de Lisboa,
530 fogos (2:100 almas) no concelho 6:050 fogos, na comarca os mesmos.
Em 1757 tinha 342 fogos.
Orago Santa Eulália.
Arcebispado e districto administrativo
de Braga.
Fafe era uma importante freguezia, e foi
elevada a villa em 1840. Diz-se que Fafe tomou o nome de D. Fafez Luz, rico
homem e alferes-mór do conde D. Henrique, pae de D. Affonso I.
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Grande romaria a Nossa Senhora d’Antime
ou Senhora da Misericordia, ou do Sol.
A imagem é de pedra, e com a charola
pesa 24 arrobas!
Outros dizem que a senhora pesa 8
arrobas, e o andor, que tambem é de pedra (!) outras oito. Levam-a na procissão
os maiores valentões da freguezia.
A imagem da Senhora é de granito
metamorphico, com braços postiços e sem pernas nem pés, nem feitio algum de
gente, alem da cara. São 8 rapagões que levam a charola e a Senhora, mas vão
outros oito para os revezar. Apesar da sua valentia, por varias vezes teem
alguns ficado esmagados debaixo da imagem; mas, mesmo assim, ha grandes
empenhos para levarem a charola, porque teem fé de serem bem succedidos, nos
seus casamentos, se tiverem sido conductores da santa.
Já dos nossos dias, um dos que ajudava a
levar a Senhora, andava picado com outros dos conductores, e ao dobrarem uma
esquina, tal geito deu, que o andor cahindo sobre o seu inimigo, o matou logo,
ficando esmagado; mas ersta morte foi immediatamente vingada por um terceiro,
que deu no tal amigo uma choupada, matando-o immediatamente e ficando a santa e
a charola cheios de sangue!
Fafe era antigamente concelho de
Monte-Longo, a qual D. Manuel deu foral em Lisboa, a 5 de Novembro de 1513.
A villa tem uma só rua, mas tem boas
casas. Ha aqui feira no primeiro de cada mez e na Pica aos 18.
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Em Fafe nasceu o bacharel José Cardozo
Vieira de Castro, filho do desembargador Luiz Lopes Vieira de Castro. José
Cardoso foi deputado e era bom orador e de muita intelligencia. Tendo ido ao
Rio de Janeiro dar mostras do seu talento oratório, casou com uma brasileira.
Regressando com a mulher a Lisboa, deu entrada em sua casa a um sobrinho do
immortal Garrett, por nome José Maria d’Almeida Garrett, jovem de muita
intelligencia, mas de uma devassidão proverbial. Tendo José Cardozo (ou
julgando ter) provas do adultério de sua mulher com Garrett, estrangulou-a. Foi
em 1871 degredado por 15 annos para Africa, onde morreu a 5 de Outubro de 1872,
de febre perniciosa. Um anno, dia por dia, depois de chegar a Africa. Morrreu
em Loanda.
Muito se tem dito e escripto contra José
Cardozo. Eu, que não sou nada, e me acho segregado do mundo, penso sobre este
trágico successo do modo seguinte.
Se não precedessem ao facto certas
circumstancias, estava Cardozo, plenamente justificado pela sociedade; porque
todo o homem de bem, todo o homem d’honra, no primeiro impulso do seu furor
faria o que elle fez; faria até mais porque mataria os dois adúlteros.
O que é certo é que a mulher morreu
assassinada e que e que o assassino morreu no degredo e assim se annullou uma
inteligência que podia vir a ser utilíssima á patria.
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No monte de S. Jorge Magno ha grandes
pedreiras de granito metamorphico e porphiroide, optimo para construcções. É
proximo da villa. N’este monte venera o povo o Penêdo de Pégadinha, no qual
deixara impressas as suas santas patas, a jumentinha da Nossa Senhora, quando
esta aqui passou a cavallo, na fugida para o Egypto!!!
É fertil em trigo, vinho e algum azeite.
Muitos gados, mel e cera, caça e pesca
(em 3 regatos que nascem no concelho e formam o Vizella.)
Teve um antiquíssimo mosteiro,
ignorando-se quando deixou d’existir para ser unido ao de Santa Marinha da
Costa.
A 12 kilometros de Fafe, próximo ao
logar de Luilhos, uma rapariga descobriu, por acaso, em pricipios de 1870 uma
nascente d’agua que rebenta d’uma rocha e que se diz ser efficaz para curar
toda a qualidade de moléstias cutâneas e outras. Já alli corre muita gente. O
povo diz que alli proximo está enterrado S. Silvestre; pelo que chama esta
fonte Banhos de S. Silvestre. Tem um cheiro particular e é muito límpida e
leve.
Apesar da aridez do sitio, está alli um
arraial com barracas de comida, muitas pipas de vinho etc.
Nas escavações que se fizeram em Junho
de 1870, para a construção d’uma capella, proximo á villa, apareceram vários
objectos e entre elles differentes moedas, cujo metal e nacionalidade se
ignora, por estarem muito corroídas da ferrugem.
É tradição que este logar foi occupado
(e habitado) pelos celtas. Outros dizem que pelos romanos.
A irmandade da Misericordia foi
instituída a 23 de Março de 1862, mas a primeira pedra do hospital de S. José,
que ella administra, foi lançada a 6 de Janeiro de 1859, e em 19 de Março de
1863 foi aberto aos pobres. É um elegante e vasto edifício, em optimas
condições. Foram seus fundadores José Florêncio Soares e outros negociantes
d’aqui, estabelecidos no Brazil. Os estatutos, foram feitos em 23 de Março de
1882. O povo d’aqui tambem concorreu muito para esta obra. A sua receita
ordinária é de 829$772 rs. E a extraordinaria de 432$364 rs. A despeza
obrigatoria é de 776$472 rs., e a facultativa 379$114. Ainda são precizos 16
contos de réis para a comclusão d’este estabelecimento de caridade, que nos
primeiros trez annos já tratou 210 doentes. Os poderes publicos, longe de
subsidiarem este estabelecimento e procurarem o seu desenvolvimento, teem
procurado varios meios de o prejudicarem e embaraçarem. É seu actual provedor
(o 1º) o sr. José Florencio Soares.
Em Janeiro de 1874, falleceu em Lisboa,
Antonio Joaquim Vieira Montenegro, que foi um rico negociante, noo Brazil. Era
natural de Travassós, d’este concelho.
Deixou ao hospital de Fafe, 2 contos de
réis fortes. A’ camara municipal da mesma villa, 7 contos de réis, para mandar
construir uma casa na freguezia de Travassós, para escola de meninos: 14 contos
de réis, para a mesma camara mandar construir uma casa para asylo de meninas
pobres, das diferentes freguezias d’este concelho.
Tambem deixou ao hospital de S. Domingos
de Guimarães, um conto de réis fortes.
O mosteiro de monges Jerónimos, de Santa
Marinha da Costa, de Guimarães, apresentava o vigário, que tinha 100$000 réis.
A comarca de Fafe, é composta somente do
seu julgado.
O concelho comprehende 35 freguezias, todas
no arcebispado de Braga; são as seguintes:
Antime, Armil, Agrella, Arões (S.
Romão), Arões (Santa Cristina), Aboim, Arnozella, Cepães, Esturãos, Fafe,
Felgueiras, Fornélos, Freitas, Fareja, Gontim, Gulães, Médêllo, Monte, Moreira,
Pedrahido, Paços, Queimadella, Quinchães, Regadas, Revelhe, Ribeiros, Setrafão,
Seidões, S. Gens, Silvares (S. Clemente) Silvares (S. Martinho), Travassós,
Varzea-Cóva, Villa-Cova, e Vinhós.
A pouca distancia de Fafe, na serra
d’Arga (ou Agra) nasce o rio Ave, que passando junto a Guimarães e outras
povoações, entra no Oceano, em Villa do Conde.»
In Pinho Leal, Augusto Soares d'Azevedo Barbosa de, Diccionario Geographico, Estatistico, Chorografico, Heraldico, Archeologico, Historico, Biographico e Etymologico de todas as cidades, villas e freguezias de Portugal e de grande numero de aldeias. Se estas são notaveis, por serem patria d’homens celebres, por batalhas ou noutros factos importantes que nellas tiveram logar, por serem solares de familias nobres, ou por monumentos de qualquer natureza, alli existentes. Noticia de muitas cidades e outras povoações da Lusitania de que apenas restam vestígios ou somente a tradição, Vol. 3, Lisboa 1874, pp. 131 a 133
https://genealogiafb.blogspot.com/2015/02/portugal-antigo-e-moderno-diccionario_27.html
Biografia de Augusto
Soares d'Azevedo Barbosa de Pinho Leal
http://www.arquivoalbertosampaio.org/details?id=21081