A
inauguração do renovado teatro de Fafe, em 10 de Janeiro de 1924, uma aspiração
antiga de muitos fafenses, que assistiram à “decadência” da antiga casa de
espectáculos de Fafe, foi motivo de grande regozijo.
O
promotor da obra, José Summavielle Soares, transformou um “velho barracão”em
uma das melhores salas de entretenimento da região.
O
acontecimento não passou ao lado da imprensa local da época; os semanários “A
Democracia”, “O Desforço” e “O Fafense”, deram o merecido destaque à abertura pública
do Teatro-Cinema, tecendo rasgados elogios ao edifício e ao seu promotor.
Foram
dias de festa os que se viveram na vila de outrora, agradada com o importante
melhoramento, cujo eco jornalístico damos a conhecer.
A DEMOCRACIA
«Uma festa interessante
A INAUGURAÇÃO
Do Teatro-Cinema de Fafe
Realizou-se no dia 10 do corrente a
inauguração do novo teatro desta vila, reconstruído a expensas do grande
benemérito de Fafe Ex.mo Dr. José Summavielle Soares.
Escolhida, para a Festa de Abertura, a
companhia dramática da distinta actriz Aura Abranches, foi naquele dia levada á
scena a soberba peça de Nicodemi «O Grande Amor».
A linda sala de espectáculos apresentava
um aspecto brilhante.
Belamente iluminada com inúmeras
lâmpadas eléctricas, destacava-se toda a sua suntuosa decoração, as lindas
pinturas onde se sente perpassar o sopro da mais encantadora arte, os dourados
fulgurantes, os motivos decorativos em tons graciosos e alegres, dando a tudo
singular realce os bustos gentis das mais distintas damas desta vila que
ocupavam os camarotes, quasi todas em lindas toilettes de baile.
A sala estava cheia, completamente
cheia.
Pelas 21 e meia horas começou o
espectaculo, sendo correcto o desempenho por parte de todos os artistas.
Cumpre especializar Adelina Abranches
que interpretaram os seus papeis com inteligencia e sentimento, dando-lhes
relevo e brilho.
No intervalo do 2º para o 3º acto quis a
Câmara Municipal deste concelho testemunhar publicamente, naquela festa
encantadora, o quanto Fafe deve ao homem ilustre que, sem se preocupar com
interesses de mercantilismo, dotou esta formosa vila com tão importante
melhoramento.
Convidado S. Ex.ª para ir ao palco, aí
apareceu tambem a comissão executiva da Camara, composta dos Ex.mos dr. Artur
Vieira de Castro, dr. Parcidio de Matos, dr. Manuel Moreira, Angelo Fernandes e
Manuel do Vale Ribeiro, portanto o rico estandarte municipal o digno chefe da
secretaria snr. Manuel Joaquim da Silva Peixoto.
O snr. dr. Parcidio de Matos, em frase
burilada e correcta. Como sempre, fez um caloroso, mas justo elogio da obra já
tão vasta do snr. dr. José Summavielle em prol desta vila, que disse ser a mais
linda de Portugal.
Frisou como a sua passagem pela Camara
Municipal foi profícua e inteligente, rasgando ruas, fazendo jardins,
transformando largos, instalando a luz elétrica, fazendo o encanamento e
aproveitamento das aguas para abastecimento da vila, etc. etc.
No hospital desta vila, onde durante
alguns anos exerceu o cargo de provedor, tambem vincou bem a sua modelar
administração, dotando o edifício, a par de outros importantes melhoramentos,
com um lindo balneário e com uma sala de operações que é, sem duvida, uma das
melhores da província.
Disse mais o snr. dr. Parcidio de Matos
que S. Ex.ª, por último, brindara Fafe com uma sala de espectáculos tão linda,
tão graciosa, como poucas haverá em Portugal.
E, frisando o que uma casa destas tem de
útil e os benefícios que pode prestar sob o ponto de vista social e educativo,
terminou por entregar ao homenageado o diploma de «Cidadão Benemérito do
Concelho» com que a Câmara quis muito justamente honrá-lo, diploma que fora
escrito em pergaminho e encerrado, com a cópia da acta em que tal deliberação
foi tomada, numa rica pasta com emblemas em prata.
O sr. Dr. José Summavielle, visivelmente
comovido, agradeceu a homenagem que vinha de lhe ser prestada, e afirmou que
nada mais fazia, nada mais tinha feito do que o seu dever, pelo grande amor que
consagra a esta linda terra.
Todos os espectadores, que de pé
assistiram a esta homenagem, coroaram de estrondosas e prolongadas palmas tanto
as palavras do snr. dr. Parcidio, como as do snr. dr. José Summavielle fazendo
a este uma carinhosa ovação.
***
Terminado o espectaculo, realizou-se no
amplo salão nobre do Teatro um baile oferecido pelo snr. dr. José Summavielle e
ex.ma Esposa para solenizar a inauguração da nova casa de espectáculos.
O salão encheu-se com as mais gentis,
com as mais distintas damas desta vila e algumas de fora, oferecendo um golpe
de vista encantador.
Profusamente iluminado com artísticos
lustres, o seu rico mobiliário, a sua pintura, os seus espelhos de cristal
davam-lhe aspectos de uma grandiosidade enlevante.
Com a maior animação decorreu aquela
linda festa até ás 7 horas do dia 11 dançando-se sempre com “entrain”.
Os Ex.mos dr. Summavielle e esposa e
gentis filhinhas foram de uma amabilidade extraordinária para todos os
convidados, que daquela festa, guardam, positivamente, as mais gratas
impressões.
O serviço, abundantíssimo e primoroso,
foi servido pela acreditada Confeitaria Oliveira, do Porto.
A orquestra para o baile foi a do
Teatro-Circo, de Braga.
***
No dia 11 representou-se linda peça
«Primorose», e no dia 12 «Madalena Arrependida» [texto ilegível].
Para terminar a série de récitas com que
tão auspiciosamente foi inaugurado o novo teatro, levou á scena a companhia
Aura Abranches o drama «Injustiça da Lei» cujo desempenho foi correcto,
destacando-se, como sempre, Adelina Abranches, Aura Abranches e Alexandre de
Azevedo.
No intervalo do 2º para o 3º acto deste
ultimo espectaculo, o snr. dr. Jos´r Summavielle convidou a distinta atriz Aura
Abranches para descerrar a lápide comemorativa da inauguração do teatro, que
fora colocada no átrio do mesmo e se achava coberta com a Bandeira Nacional.
Nessa altura o Ex.mo dr. Manuel Morato,
Juiz de Direito em Melgaço e que durante alguns anos exerceu nesta comarca o
cargo de Delegado do Procurador da Republica, falou entusiasticamente, fazendo,
num discurso elegante e alevantado, o caloroso elogio da obra do snr. dr. José
Sumaviéle Soares, dirigindo tambem as suas felicitações á companhia dramática e
á sua principal figura a gentil Aura Abranches.
Esta agradeceu em breves mas
interessantes frases, dixendo graciosamente que ela e os seus colegas levavam
de Fafe as melhores impressões, e que o povo desta terra se devia orgulhar do
«amorzinho de teatro com que o snr. dr. Sumaviéle a quis dotar».
Em seguida a mesma distinta atriz
descerrou a lápide de mármore, onde em letras de ouro se lê: «Inaugurado em
10-1-24 pela Companhia Aura Abranches».
O publico coroou esta cerimonia com
entrepitosos aplausos, sendo levantados vivas ao snr. dr. José Sumaviéle, e a
orquestra executou a Portuguêsa.
***
A orquestra dos espectáculos, sob a
batuta do snr. Carvalho, regente da Banda de Revelhe, agradou muitíssimo,
executando em todas as quatro noites de festa lindos trechos musicais.
Está-se procedendo no teatro á montagem
do aparelho cinematográfico, que nos dizem ser o mais moderno e aperfeiçoado.»
In jornal “A DEMOCRACIA”, nº 129, 13
Janeiro 1924
O DESFORÇO
«Progresso de Fafe
Inauguração do «Teatro-Cinema»
Déz de Janeiro foi de festa para a nossa
linda terra!
Inaugurou-se nessa noite o
«Teatro-Cinema» - nome tão simples para obra tão grande.
As terras mais prosperas e mais
formosas, os homens de mais talento e acção, as obras mais magnificas e mais
encantadoras, são as que teem os nomes mais simples. Assim, este belo canteiro
do Minho que todos admiram, chama-se só Fafe; um grande filho que se orgulha de
possuir e que lhe tem dado dotes invejáveis, só quatro letras tambem tem o seu
nome – Josè; a excelente obra da sua iniciativa que ahi se levanta na rua Mgr.
Vieira de Castro é simplesmente - «Teatro-Cinema». Mais nada.
«Teatro-Cinema» lê-se cá fora: mas quem
ler aquela singelesa de palavras não avalia o que lá dentro está: decoração a
gosto, arte positiva, agradável disposição de tudo. Luxo e elegância desde o
altivo salão níbre ao vasto palco e confortáveis camarins, desde a deslumbrante
entrada principal á plateia, frisas e camarotes; desde o agradável terraço ao
jardim lateraes.
Dignos de louvores são quantos
colaboraram nesta obra importante: dignos de honra são: o técnico de «A
Japoneza, Ld.ª», do Porto, sr. Duarte d’Almeida, que deu áquilo tudo um tom
prodigioso, caprichando no mobiliário e adorno do salão principal, que é, no
genero, um dos raros que devem existir; e os habeis pintores que com tintas
multicolores fizeram realçar o tecto, imprimindo-lhe poesia e o artista da
sacada em cimento que sobresae na frontaria.
«Teatro-Cinema» !
Quer dizer: ali, naquela casa modelo,
poderão funcionar as melhores e maiores companhias e exibir-se as mais
perfeitas fitas cinematográficas.
E assim foi que, quinta-feira passada,
teve a honra de trabalhar pela primeira vez no sobredito teatro, inaugurando-o
solenemente, a Companhia Aura Abranches, uma das melhores do paiz.
Representou O Grande Amôr, que maior não
póde ser – o amor de mãe!
Aura Abranches, no papel de Maria Bini
(professora) é que representou e muito bem esse grande amor. Perdêra uma filha
que, devido á autoridade e inergia do sindico C. de F. (Sacramento) encontrara
nove anos depois. No grande Amôr a distinta artista revelou naturalidade, arte,
perfeição, como Adelina Abranches no papel de Directora se houve perfeitamente.
Mas quem foi a personagem mais
importante da grande noite, da noite de triunfo, de alegria, de aféto, de
galas, de glorias?
Foi precisamente, o homem de reconhecida
inteligência e acção, o bairrista apaixonado, o engrandecedor de Fafe, o dono
da admiravel casa de espectaculos que é o dr. José Summavielle Soares!
Foi ele, não podia deixar de ser!...
A Camara, representada pela sua ilustre
Comissão Executiva – dr. Artur Vieira de Castro, dr. Manoel Moreira, Angelo
Fernandes e Vale Ribeiro, com o seu estandarte, foi homenagia-lo ao palco,
entre o 2º e o 3º actos, levar-lhe uma mensagem escrita em pergaminho e metida
numa luxuosa pasta. Tinha-o proclamado cidadão benemérito do concelho de Fafe.
O ilustre vice-presidente dr. Parcidio,
fez um discurso eloquente, brilhante, como ele sabe fazer, pondo em destaque a
grande obra do filho desta terra: historiou a sua passagem pela Camara que foi
eficaz, feliz, quer na abertura de ruas e aformoseamento de largos, quer na
arborisação e jardinagem, etc.; deu luz á vila e resolveu as aguas na casa
começada por seu avô José Florêncio Soares, a quem o orador aludiu com
admiração e saudade; frisou a sua passagem pelo Hospital que dotou com um
moderno balneário e perfeita sala de operações; não esqueceu porem a sua
administração honesta, honrada, desinteressada; e toda essa obra coroada agora
com a mais bela e moderna casa de espéctaculos que naquela noite se inaugurava.
Respondeu sua ex.ª de improviso com
palavras felizes de vivo agradecimento, confessando o amor que alimenta por
esta boa terra, mas como que querendo dizer que apenas cumpria o seu dever, que
tudo isso que fez é pouco e que o teatro se deve a ele sim, mas que o auxiliou
imenso a casa «A Japoneza Ld.ª», ali representada.
Valor e modéstia!
Quando a Camara apareceu no palco, as
palmas foram estrondosas e demoradas, assim como depois do agradecimento do sr.
Dr. Summavielle. A orquestra executou «A Portugueza» e tudo de pé e respeitosamente
assistiu áquela passagem sublime da grande festa.
Estava feita a apoteose ao merecimento,
ao trabalho, á honradez, á inteligência!
Grande Amôr!
Uma mãe que ali estava e que tem o nome
de uma modesta mas linda flor – Margarida – como o devia sentir!
A outra alimentava o grande amor por uma
filha que julgava ter perdido!
Esta, revigorava-lhe em labaredas, no
coração, o grande amor por um filho que sempre tivera junto de si e que naquela
noite de alegria via glorificado!
As mães querem aos filhos como Maria
quis a Jesus!
Jesus foi unico no mundo!
Homens prodigiosos tem havido na terra!
Portugal tem tido grandes homens!
Ao lado dos homens importantes de Fafe
enfileira em primeiro logar o dr. José Summavielle Soares!
E poderia enfileirar ao lado dos homens
notaveis de Portugal se quizesse…
Na alta administração do Estado como
seria desejada a sua colaboração!...
Não quere…
Fafe tambem precisa dele aqui para se
engrandecer, para se elevar mais.
Fafe adora-o!
O teatro, repleto, na noite de 10 –
senhoras e creanças, velhos e novos – mostrou quanto lhe quere, a simpatia que
lhe dedica – nos aplausos que lhe fez.
Fafe!
Dr. José!
Simples nomes mas terra formosa, alma
formosa!
Grande Amôr!
Grande amor que o segundo tem á primeira!
Bem escolhida peça de inauguração: -
Grande Amôr!
Ao fim do terceiro acto da obra de Dario
Nicodemi estava inaugurado com sumptuosidade o «Teatro-Cinema» a que concorreu
bastante oficialidade do exercito, muitas famílias de fora e da terra.
A Camara, honrando, honrou-se!
O dr. José Summavielle atingiu o auge da
estima!
E Fafe, que se deve orgulhar do
monumento que ahi tem e que é uma honra para a terra, jamais deve deixar de
concorrer a espectaculos ou cinemas, tal qualmente o fez na noite da inauguração
e tres seguintes.
A seguir ao espectaculo realizou-se um
baile no salão nóbrepara convidados da terra e de fora, que esteve
animadíssimo, dançando-se até às 7 horas do dia 11-
“O Desforço”, admirador e amigo do dr.
José Summavielle Soares, reitera-lhe os seus aplausos com um entusiástico e
afétuoso:
Viva o dr. José Summavielle Soares!
***
Alem da imprensa local, assistiu ao
espectaculo de inauguração o nosso presado colega do «Jornal de Noticias» do
Porto sr. Armando Gonçalves, funcionário superior da Camara do Porto.
- «A Japoneza, Ld.ª», do Porto, foi a
que ofereceu para o espectaculo de inauguração os lindos programas profusamente
distribuídos.
- a orquestra, sob a regência do snr.
Joaquim Carvalho, que executou admiravelmente, era composta de amadores e
profissionais da terra.
- O pessoal do teatro usa todo fardas.
As três lindas peças que se apresentaram
nas noites seguintes - «Primerose» e «Injustiça da Lei», agradaram muito, sendo
os interpretes entusiasticamente ovacionados.
***
No domingo, entre o 2º e o 3º actos, o
sr. Dr. Summavielle convidou a laureada actriz Aura Abranches a fazer o
descerramento de uma placa de mármore com letras douradas colocada no átrio,
onde leu, com surpresa para ela, os seguintes dizeres: - «Inaugurado em 10-1-24
pela Companhia Aura Abranches».
Falou nessa ocasião o snr. dr. Manoel
Morato, ex-delegado nesta comarca e actualmente Juiz de Melgaço, que elogiou em
frases elegantes a obra do dr. Summavielle, dizendo que ela trazia grande
beneficio para a população deste concelho, quer pelo lado recreativo, quer pelo
lado educativo e que sua ex.ª tinha tido a feliz ideia de escolher para a
inauguração uma das melhores companhias portuguezas dirigida pela gentil actriz
Aura Abranches-
Esta agradeceu graciosamente em palavras
breves mas distintas, fazendo o elogio de Fafe de onde leva as mais gratas e
saudosas recordações – e do seu povo, que é um povo educado, felicitando-o pelo
bijou que possue. Palmas e vivas ao dr. Summavielle.
As gentis filhas deste ilustre homem
ofereceram á Companhia dois lindos ramos de flôes naturais.
Rematou a cerimónia com a execução da
«Portugueza»
In jornal “O Desforço”, nº 1592, 17
Janeiro 1924
O
FAFENSE
«SOLÉNE INAUGURAÇÃO
Do
TEATRO-CINÊMA DE FAFE
Reconstruido a expensas do grande
fafense, S. Ex.ª o Dr. Sumaviele Soares foi inaugurado no passado dia 10 do
corrente, com extraordinário brilho e pompa, o novo teatro desta vila.
Esteve um acto sobremaneira digno de
assunto. Imponente e magestosa foi essa festa, não só por o que ela
representava, como tambem pela merecida homenagem que a digna Camara de Fafe
rendeu a um dos mais distintos Homens do concelho.
O tema é vastíssimo e quasi igual á
nossa boa vontade; porem, não nos passa pela mente a mais ligeira sombra de
vaidade de o desenvolver. No conjunto destas circunstancias aí vai, á
vol-d’oiseau, a descrição dessa suntuosa festa.
9 horas. Noite de inverno. Apesar da
chuva miúda e impertinente que caía, notava-se grande movimento á porta do
teatro. Escolhendo caminho seguro entre os automóveis e trens, detivemo-nos
alguns momentos no vestíbulo, e depois, um pouco a custo, entramos.
A plateia e camarotes já se achavam
literalmente repletos!
Que aspecto! Que efeito surpreendente!
Aquele teatro tão mimoso, tão colorido,
tão cheio de luz, destacando as vaporosas e garridas toilettes de baile, que as
gentis senhoras da nossa mais fina elite ostentavam, deu-nos a viva impressão
dum descomunal e perfumado crisântemo, carregado dum sem numero de multicolores
borboletas!
Belamente impressionados, recostamo-nos
ao nosso fauteiul.
Corremos a vista em redor, e, depois de
ouvirmos um pouco a rasoavel orquestra, subiu o pano, e a Aura Abranches
encetou a representação da peça de Nicodemi, «O Grande Amor». Foram 3 actos emocionantes!
Amor de mãe! E’ realmente o único amor a que se pode chamar Grande!
Dario Nicodemi não procurou somente
escrever (como uma boa parte dos que escrevem para teatro) uma fantasia
sugestionadora, não. A tortura d’aquela alma pela anciã de voltar a ver a sua
filhinha querida diz muito mais.
Valendo-se d’um caso da vida pratica,
Nicodemi prova-nos edificantemente a incomensurabilidade dum coração de mãe.
O desempenho, conquanto o Sacramento não
estivesse nos seus dias felizes, satisfez, tendo que salientar-se o magistral
trabalho da grande artista Adelina Abranches.
Passemos ao que mais importa.
Aproveitando o intervalo entre o 2º e 3º acto, a digna Camara de Fafe, que
tinha resolvido, em acta já lavrada, conceder a justa e bem merecida honra de
Cidadão Benemerito do Concelho a S. Exª o Snr. Dr. Sumaviele Soares, veio ao
paleo acompanhado de S Ex.ª
Nessa ocasião o imenso auditório
ergueu-se, e o ilustre advogado desta vila Dr. Parcidio de Matos, em nome da
Camara de Fafe, frisou numa alocução brilhante o quanto S. Ex.ª o Snr. Dr.
Sumaviele Soares tem feito por esta linda terra. Feita a entrega do diploma que
uma rica pasta encerrava, acabou por dizer que S. Ex.ª tem no coração de todos
os Fafenses um verdadeiro altar de veneração.
O Snr. Dr. Sumaviele Soares,
visivelmente comovido, agradeceu, e, com chave doiro, como sempre, modesto,
fecha o seu eloquente discurso, dizendo: - «De forma alguma quero roubar, com o
desalinho e desbarato das minhas simples palavras, o precioso tempo que resta
para nos devertirmos».
Uma estrondosa salva de palmas rebentou
por todo o auditório, sendo S. Ex.ª muito felicitado.
A noite acabou por um animado baile á
rigore, oferecido por S. Ex.ª e Sua Ex.ª Esposa no Salão Nobre do Teatro, e
para o qual, somente se achavam convidadas as melhores famílias da nossa
Sociedade. Consta-nos que decorreu muito animado, e que foi esplendidamente
servido. Acabou ás 7 da manhã.
No dia 11 representou-se a «Primorose»,
e no dia seguinte a «Madalena Arrependida».
Por absoluta falta de espaço é-nos
interamente impossível fazer referencias sobre estes espectáculos, contudo,
precisamos frisar, que tanto as peças como o desempenho, satisfez cabalmente.
A serie de representações da inauguração
terminou com a peça «Injustiça da Lei», sendo, no intervalo do 2º para o 3º
acto da referida peça, descerrada, pela distinta atriz Aura Abranches, a lápide
comemorativa da inauguração do Teatro, e na qual se lê: «Inaugurado em 10-1-24
pela Companhia Aura Abranches.
Nesta altura o Ex.mo Dr. Manuel Morato,
muito digno Juiz de Direito em Melgaço, fez num caloroso discurso o elogio da
grandiosa obra de S. Ex.ª o Dr. Sumaviele Soares, e, na pessoa da gentil e
distinta atriz Aura Abranches, dirigiu tambem as suas felicitações à Companhia Dramatica.
Aura agradece com talento e graça,
coroando o publico esta cerimónia com muitas palmas e vivas a S. Ex.ª o Dr.
Sumaviele Soares.
O serviço de Bombeiros foi feito pela
denotada corporação dos Bombeiros 28 de Julho desta vila.
In jornal “O Fafense”, nº 11, 27 Janeiro
1924